Adilson Luiz Gonçalves*
“Juventude transviada”, “hippies”… Todos esses movimentos sempre
tiveram um quê de protesto contra alguma coisa: repressão
sócio-familiar, Guerra do Vietnã etc. Ao menos tinham alguma razão de
ser, embora todos tivessem um grande componente fashion, muito bem
aproveitado pelos marqueteiros, que podiam ser, pessoalmente,
conservadores, mas, sempre foram extremamente dinâmicos – e continuam a
sê-lo – quando o assunto é lucrar com as fraquezas e deficiências dos
outros, principalmente dos adolescentes.
Os hippies pregavam “paz e amor”, mas muitos de seus adeptos só
queriam uma desculpa para não fazer absolutamente nada de convencional,
fumar seu “baseado”, fazer sua “viagem lisérgica”, praticar “amor livre”
e vender artesanato nas feirinhas ou esquinas, tocando flauta…
Contra-cultura!
Confesso que era até interessante vê-los pelas ruas, com suas calças
desbotadas, batas coloridas, psicodélicas, cabelos compridos e
desgrenhados, distribuindo flores para os mais velhos, rindo e dançando
infantilmente; mas quantos não terminaram viciados em drogas ou tão – ou
mais – conservadores e agarrados ao poder econômico, como o
establishment que combatiam?
Generalizações são sempre perigosas, mas, é possível observar que,
desde então, todos os movimentos jovens alienaram a juventude. Poucos,
aliás, tiveram início em seu seio: Ela só foi “massa de manobra” de
lances globais de marketing intimamente ligados ao mundo dos modismos e à
estratégias de descaracterização cultural (teoria de conspiração?).
"Em vez de ideais de humanização
para uma sociedade arcaica,
o que se vê são propostas de sua
degradação pessoal
e coletiva!"
Mas, onde estão os hippies e transviados? Bem, muitos se
transformaram em respeitáveis e conservadores membros da elite social.
Ainda é possível ver alguns hell’s angels, desfilando com suas Harley
Davidsons por aí, com bandanas na cabeça e roupas de couro, estilo “easy
ridder”; mas, quase todos são empresários bem sucedidos, seguindo o
caminho de seus pais, como na música de Belchior. Ainda ouvem CCR, mas
com os olhos na Bolsa…
Mas, se olharmos de meados da década de 1970 para cá, perceberemos
que houve uma mudança preocupante no foco desses movimentos: em vez de
ideais de humanização para uma sociedade arcaica, o que se vê são
propostas de sua degradação pessoal e coletiva! Em comum só têm os
investidores no lado aparente de seus adeptos (roupas, maquiagens e
acessórios).
É óbvio que tudo isso sempre tem a ver com questões sócio-econômicas
e, quase sempre, têm origem nos subúrbios do “primeiro mundo”,
principalmente nos EUA e na Inglaterra. Assim foi como os movimentos:
“punk”, “rap”, “góticos” etc. Nós, “terceiro-mundistas”, como bons
“macaquitos”, fazemos questão de imitar tudo, mesmo que com alguns meses
ou anos de atraso, provando que podemos ser “retardados” e colonizados
de várias formas.
Mas qual é o limite entre o temporal (que faz estragos) e o duradouro (que os perpetua)?
Perdoem-me se estou sendo “careta”, mas creio estar na atitude dos
pais perante os filhos! Digo isso porque, enquanto alguns pais prestam
mais atenção em suas carreiras e vidas sociais, deixando que a “vida” os
crie, outros são extremamente liberais: toleram tudo, permitem tudo,
apoiam tudo, defendem tudo, mas, não medem nada! O resultado é que hoje
proliferam “tribos” que só querem ser vistas, o que seria normal na
adolescência; a diferença é que para serem aceitos os jovens se mutilam:
colocam argolas enormes nas orelhas, colocam piercings nos lugares mais
improváveis e perigosos, gastam fortunas com roupas grotescas, tatuam o
corpo todo (esquecendo que a moda muda), ficam até altas horas da
madrugada em lugares públicos, falando alto e, por vezes, consumindo
drogas… Agora existem os emos, que se acham mais sensíveis e,
ocasionalmente, bissexuais. Onde estão os pais, em meio a tudo isso? Não
vêem os filhos saírem de casa? Não vêem os filhos chegarem em casa?
Mas, não é só aí que a “coisa” fica, e “pega”: a adolescência é uma
fase de transição, de confrontação, de autoafirmação – o que é
perfeitamente natural. Mas a esse processo natural de transgressão estão
sendo incorporados valores distorcidos, alta agressividade e falta de
educação como estilo. Também são “fashion”!
Pedir licença, por favor ou agradecer? Nem pensar…
Pedir licença, por favor ou agradecer? Nem pensar…
Sou pai e, portanto, ator e, potencialmente, “vítima” dessas
circunstâncias. Tento cumprir minhas responsabilidades, e espero que
outros também o façam! Mas, não posso negar que estou profundamente
preocupado com o que o futuro nos reserva, pois muitos de nossos jovens
aceitam, com a omissão ou conivência dos pais, entrar nessas “linhas de
montagem” da alienação lucrativa que, em vez de “libertá-los”, vai
torná-los cada vez mais escravos dela.
Não precisamos ser como nossos pais, mas, temos que ser pais!
----------------------
* É engenheiro civil pela Universidade de Santa Cecília (Unisanta) e
mestre em educação pela Universidade Católica de Santos (UniSantos).
Pós-graduado em construções e obras públicas pelo Institut Supérieur du
Béton Armé (ISBA – França) e em avaliações e perícias em engenharia pelo
Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias (Ibape). Professor dos
cursos de Engenharia Civil e de Arquitetura e Urbanismo, da Unisanta.
Pesquisador do NEPOMT - Núcleo de Estudos Portuários, Marítimos e
Territoriais, da Unisanta. Membro da ASL - Academia Santista de Letras,
onde ocupa a cadeira nº 16. Escritor, com tem textos premiados pela
Academia Brasileira de Letras (ABL), pela Academia Brasileira de
Literatura (Abrali) e pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores
(CBJE). Cronista e articulista, colaborador de vários meios de
comunicação brasileiros. É o autor dos livros: “Sobre Almas e Pilhas”
(2005), “Dest’Arte” (2009) e "Claras Visões" (2011), todos disponíveis
em versões digitais, gratuitas.
Fonte: http://www.imil.org.br/10/08/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário