sábado, 11 de agosto de 2012

Juventude estropiada

Adilson Luiz Gonçalves*

adilson1(1)
“Juventude transviada”, “hippies”… Todos esses movimentos sempre tiveram um quê de protesto contra alguma coisa: repressão sócio-familiar, Guerra do Vietnã etc. Ao menos tinham alguma razão de ser, embora todos tivessem um grande componente fashion, muito bem aproveitado pelos marqueteiros, que podiam ser, pessoalmente, conservadores, mas, sempre foram extremamente dinâmicos – e continuam a sê-lo – quando o assunto é lucrar com as fraquezas e deficiências dos outros, principalmente dos adolescentes.
Os hippies pregavam “paz e amor”, mas muitos de seus adeptos só queriam uma desculpa para não fazer absolutamente nada de convencional, fumar seu “baseado”, fazer sua “viagem lisérgica”, praticar “amor livre” e vender artesanato nas feirinhas ou esquinas, tocando flauta… Contra-cultura!
Confesso que era até interessante vê-los pelas ruas, com suas calças desbotadas, batas coloridas, psicodélicas, cabelos compridos e desgrenhados, distribuindo flores para os mais velhos, rindo e dançando infantilmente; mas quantos não terminaram viciados em drogas ou tão – ou mais – conservadores e agarrados ao poder econômico, como o establishment que combatiam?
Generalizações são sempre perigosas, mas, é possível observar que, desde então, todos os movimentos jovens alienaram a juventude. Poucos, aliás, tiveram início em seu seio: Ela só foi “massa de manobra” de lances globais de marketing intimamente ligados ao mundo dos modismos e à estratégias de descaracterização cultural (teoria de conspiração?).

"Em vez de ideais de humanização 
para uma sociedade arcaica, 
o que se vê são propostas de sua 
degradação pessoal 
e coletiva!"
 
Mas, onde estão os hippies e transviados? Bem, muitos se transformaram em respeitáveis e conservadores membros da elite social. Ainda é possível ver alguns hell’s angels, desfilando com suas Harley Davidsons por aí, com bandanas na cabeça e roupas de couro, estilo “easy ridder”; mas, quase todos são empresários bem sucedidos, seguindo o caminho de seus pais, como na música de Belchior. Ainda ouvem CCR, mas com os olhos na Bolsa…
Mas, se olharmos de meados da década de 1970 para cá, perceberemos que houve uma mudança preocupante no foco desses movimentos: em vez de ideais de humanização para uma sociedade arcaica, o que se vê são propostas de sua degradação pessoal e coletiva! Em comum só têm os investidores no lado aparente de seus adeptos (roupas, maquiagens e acessórios).
É óbvio que tudo isso sempre tem a ver com questões sócio-econômicas e, quase sempre, têm origem nos subúrbios do “primeiro mundo”, principalmente nos EUA e na Inglaterra. Assim foi como os movimentos: “punk”, “rap”, “góticos” etc. Nós, “terceiro-mundistas”, como bons “macaquitos”, fazemos questão de imitar tudo, mesmo que com alguns meses ou anos de atraso, provando que podemos ser “retardados” e colonizados de várias formas.
Mas qual é o limite entre o temporal (que faz estragos) e o duradouro (que os perpetua)?
Perdoem-me se estou sendo “careta”, mas creio estar na atitude dos pais perante os filhos! Digo isso porque, enquanto alguns pais prestam mais atenção em suas carreiras e vidas sociais, deixando que a “vida” os crie, outros são extremamente liberais: toleram tudo, permitem tudo, apoiam tudo, defendem tudo, mas, não medem nada! O resultado é que hoje proliferam “tribos” que só querem ser vistas, o que seria normal na adolescência; a diferença é que para serem aceitos os jovens se mutilam: colocam argolas enormes nas orelhas, colocam piercings nos lugares mais improváveis e perigosos, gastam fortunas com roupas grotescas, tatuam o corpo todo (esquecendo que a moda muda), ficam até altas horas da madrugada em lugares públicos, falando alto e, por vezes, consumindo drogas… Agora existem os emos, que se acham mais sensíveis e, ocasionalmente, bissexuais. Onde estão os pais, em meio a tudo isso? Não vêem os filhos saírem de casa? Não vêem os filhos chegarem em casa?
Mas, não é só aí que a “coisa” fica, e “pega”: a adolescência é uma fase de transição, de confrontação, de autoafirmação – o que é perfeitamente natural. Mas a esse processo natural de transgressão estão sendo incorporados valores distorcidos, alta agressividade e falta de educação como estilo. Também são “fashion”!
Pedir licença, por favor ou agradecer? Nem pensar…
Sou pai e, portanto, ator e, potencialmente, “vítima” dessas circunstâncias. Tento cumprir minhas responsabilidades, e espero que outros também o façam! Mas, não posso negar que estou profundamente preocupado com o que o futuro nos reserva, pois muitos de nossos jovens aceitam, com a omissão ou conivência dos pais, entrar nessas “linhas de montagem” da alienação lucrativa que, em vez de “libertá-los”, vai torná-los cada vez mais escravos dela.
Não precisamos ser como nossos pais, mas, temos que ser pais!
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* É engenheiro civil pela Universidade de Santa Cecília (Unisanta) e mestre em educação pela Universidade Católica de Santos (UniSantos). Pós-graduado em construções e obras públicas pelo Institut Supérieur du Béton Armé (ISBA – França) e em avaliações e perícias em engenharia pelo Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias (Ibape). Professor dos cursos de Engenharia Civil e de Arquitetura e Urbanismo, da Unisanta. Pesquisador do NEPOMT - Núcleo de Estudos Portuários, Marítimos e Territoriais, da Unisanta. Membro da ASL - Academia Santista de Letras, onde ocupa a cadeira nº 16. Escritor, com tem textos premiados pela Academia Brasileira de Letras (ABL), pela Academia Brasileira de Literatura (Abrali) e pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE). Cronista e articulista, colaborador de vários meios de comunicação brasileiros. É o autor dos livros: “Sobre Almas e Pilhas” (2005), “Dest’Arte” (2009) e "Claras Visões" (2011), todos disponíveis em versões digitais, gratuitas.
Fonte:  http://www.imil.org.br/10/08/2012

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