quarta-feira, 29 de agosto de 2012

“Não há nada mais moderno do que o livro”

Antonio Skármeta, escritor

A Feira do Livro de Santa Cruz do Sul conta, pela primeira vez, com um patrono estrangeiro. O escritor chileno Antonio Skármeta, 71 anos, cuja chegada era aguardada ontem, está cheio de planos para sua passagem pelo município do Vale do Rio Pardo. Além dos compromissos oficiais, ele quer conhecer a cidade, os escritores locais e conversar com “quem quiser lhe escutar”.

Celebrado por títulos como O Carteiro e o Poeta, O Baile da Vitória e A Garota do Trombone, o escritor tem 15 livros lançados em 25 diferentes idiomas. Com o Brasil, afirma ter uma relação de amizade. A cumplicidade entre o escritor e brasileiros surgiu das muitas visitas a eventos literários, universidades e do gosto pela literatura nacional – Skármeta cita até autores gaúchos da nova geração:

– Admiro a obra de Erico Verissimo, li o livro sobre Santos Dumont de Alcy Cheuiche. Dos mais jovens, conheço textos de Michel Laub e Carol Bensimon.

Hoje, na 25ª edição da Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, o escritor vai autografar seu livro mais recente, O Dia em que a Poesia Derrotou um Ditador, lançado no Brasil pela Record, com tradução de Luís Carlos Cabral. Skármeta pretende ficar na cidade até 1º de setembro. Sem compromissos oficiais, quer estar com os “sentidos abertos e expectantes”, descobrindo a cidade e os moradores.

De Santiago do Chile, por e-mail, o autor falou sobre sua trajetória e das expectativas em relação à visita. Na conversa, reafirmou que não existe nada mais moderno do que o livro.

Zero Hora – Quais os planos para sua passagem pela Feira do Livro de Santa Cruz do Sul?

Antonio Skármeta –
Lerei fragmentos de Um Pai de Filme, de O Carteiro e o Poeta e textos de algumas canções que escrevi com temas brasileiros, uma delas dedicada à cantora Dalva de Oliveira. Além disso, acredito que estão a ponto de publicar, pela Record, meus dois últimos livros. Se assim for, pois bem, os apresentarei a quem quiser me escutar.

ZH – Em outras visitas ao Rio Grande do Sul, o senhor já havia mencionado essa ligação forte com a MPB. Quando e como surgiu esse contato?

Skármeta –
Da vida, do amor, das viagens, da minha admiração pela virtuosa inteligência que têm os artistas brasileiros de fazer sensuais, surpreendentes e comunicativas suas ideias, paixões e melancolias. Tom Jobim e Vinicius (de Moraes) merecem ser canonizados. Ao menos, já rezo a eles pedindo inspiração. Toquinho, Roberto Menescal e Paulinho da Viola estão no aparelho de som do meu carro. Dirijo por Santiago, mas me sinto no Rio.

ZH – E sua ligação com a literatura brasileira?

Skármeta –
Li os clássicos durante a universidade, como Machado de Assis e Euclides da Cunha, e depois o que ia encontrando traduzido para o espanhol: Jorge Amado, Guimarães Rosa, Nélida Piñón, Clarice Lispector, Dalton Trevisan. Em Berlim, conheci Ignácio Loyola Brandão e João Ubaldo Ribeiro, deslumbrantes.

ZH – O senhor tem atuação também no cinema, como roteirista, ator e diretor, além de um livro seu ter sido adaptado em um grande sucesso do cinema, O Carteiro e o Poeta (1994). Como o senhor se divide entre cinema e literatura?

Skármeta –
Prefiro a literatura a qualquer outra coisa. Escrever é um ato que só depende de você mesmo para triunfar ou fracassar. E a leitura é um milagre no qual se encontram a intimidade e a fantasia de um escritor com as de um leitor ou leitora: sem intermediação de nenhum tipo, sem refletores, sem maquiagem, sem edição, sem música incidental, sem pipoca. Ambos revelando-se um ao outro. Não há nada mais moderno do que o livro. Amo o cinema exatamente pelo contrário, pela alegria de trabalhar em equipe. Encantam-me os filmes de Walter Salles, lamento ainda não ter visto Na Estrada.

ZH – O senhor tem algum projeto atualmente em cinema?

Skármeta –
Gostaria de filmar minha novela Um Pai de Cinema. Além desse desejo, não há nada de concreto ainda. Se encontrar um produtor, me animo a dirigir o filme eu mesmo.

ZH – O senhor está escrevendo algum livro novo no momento?

Skármeta –
Uma novela longa, uma obra de teatro e várias canções, que incluem bossa nova, bolero, milonga e árias líricas.

ZH – E quanto às horas vagas, o que lhe agrada?

Skármeta –
Temo que eu esteja aperfeiçoando a arte de beber caipirinhas.
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vanessa.kannenberg@zerohora.com.br
Reportagem por VANESSA KANNENBERG | Santa Cruz do Sul/Casa Zero Hora
Fonte: ZH on line, 29/08/2012

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