José Maria Alves da Silva*
Hoje, formamos técnicos sem sintonia
com questões sociais. Livros americanos
que usamos não ensinam economia política
e não servem para a soberania
com questões sociais. Livros americanos
que usamos não ensinam economia política
e não servem para a soberania
Ainda na vigência da ditadura militar, houve no Brasil um grande
movimento reivindicatório de reforma curricular do ensino de economia.
Ansiava-se por escolas que também contribuíssem para a formação de massa
crítica e atenta à realidade nacional, em vez de meramente formar
técnicos para empresas ou burocratas estatais alienados, como se
acreditava ser o intento da ditadura.
Depois de intensas discussões, a reforma foi implementada, em meados dos
anos 1980. Como parte dela, introduziu-se a economia política no
currículo mínimo, junto com distribuição mais equilibrada entre
disciplinas de história, teóricas e instrumentais, e a obrigatoriedade
da monografia de conclusão de curso, para iniciar os alunos na pesquisa
aplicada a problemas nacionais.
Mas, após tantos anos, temos a impressão de que a formação dos nossos economistas está pior que antes.
As economias políticas estão aí nos currículos, só que marginalizadas.
Servem mais para adornar grades curriculares e preencher a carga horária
exigida do que cumprir o papel que se esperava delas.
O núcleo duro dos cursos mais conceituados é pleno de teorias e modelos
difundidos por manuais norte-americanos, do chamado "mainstream
economics", com seus acessórios matemáticos, econométricos e tudo aquilo
que, como diria o filósofo Álvaro Vieira Pinto, pode servir para formar
"serventuários do poder supremo", mas não "agentes de desenvolvimento
econômico", sintonizados com a nossa história e com nossos grandes
problemas sociais.
Até o curso economia brasileira serve mais de pretexto para a aplicação
de técnicas do que para a análise histórica do país. A monografia se
tornou atividade burocrática extremamente vulnerável à corrupção. A
despeito das dificuldades crescentes de leitura e escrita, ninguém deixa
de tirar o diploma por falta dela.
Antes, ao menos existiam grandes polêmicas, como o célebre debate entre
monetaristas e estruturalistas, com posições pró- EUA e pró-América
Latina. No time dos estruturalistas, muitos não tinham pós-graduação,
mas eram intelectuais de notório saber. Paradoxalmente, de lá para cá o
número de doutores aumentou muito, mas o debate foi se esvaziando à
medida que íamos sendo arrastados pelo que Mário Possas chamou de "cheia
do mainstream".
O que motivou a reforma curricular nos anos 1980 foi a crença de que o
Brasil precisava de um ensino de economia menos teórico-abstrato e mais
político-normativo.
Mas, por incrível que pareça, depois de quase 20 anos de partidos no
poder que se declaravam de esquerda ou centro-esquerda, nos quais ocupam
lugares de destaque muitos dos que haviam ardentemente lutado pela
reforma, a situação do ensino de economia é causa de profunda frustração
entre aqueles que depositaram grandes esperanças nela -e ainda sonham
com um país soberano e socialmente progressista.
Para esses objetivos, o "mainstream economics" é totalmente
contraindicado. Não serve para orientar a saída do subdesenvolvimento e,
como a crise econômica mundial tem demonstrado, nem mesmo para a
compreensão dos graves defeitos do capitalismo contemporâneo.
Essas impropriedades, descortinadas por Hyman Minsky há mais de duas
décadas, estão em processo de amplo reconhecimento, como bem indica
episódio recente envolvendo o curso de economia oferecido por Gregory
Mankiw, em Harvard.
Depois da leitura de um manifesto no qual o acusavam de "apresentar uma
visão específica e limitada da economia, que contribui para perpetuar um
sistema problemático e ineficiente de desigualdade econômica", os
alunos abandonaram a sala de aula, em solidariedade ao movimento Occupy
Wall Street.
Mankiw, ex-assessor econômico de George W. Bush, não por acaso, é o autor do livro de economia mais vendido no Brasil.
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