quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Oriente Médio, hoje

Salomão Schvartzman e Zevi Ghivelder*


Ao propor a erradicação de um país, o diplomata do Irã supera o nazismo. E a Palestina nunca foi uma nação, Israel só ocupou tal território após ser atacado 

"Diplomacia é a ciência daqueles que nenhuma ciência têm, daqueles que são profundos pelo próprio vazio."
Balzac
 
Anteontem, esta Folha publicou um artigo assinado pelo primeiro-secretário da embaixada do Irã no Brasil, Ali Mohaghegh, sob o título "O futuro do Oriente Médio", que traz um conteúdo alarmante: de forma explícita, um país soberano exorta a erradicação de outro país soberano. Nem o nazismo se atreveu a tanto.
A sequência de erros e omissões contida no referido texto é de uma ridícula desfaçatez.
O autor cita a chamada primavera árabe como um movimento contra Israel e os Estados Unidos, quando justamente o que mais chamou a atenção foi o fato de que não houve, no Cairo, em Tripoli ou em Tunis, por ocasião das rebeliões populares, queima de bandeiras americanas ou israelenses, tantas vezes já vistas, sobretudo em Teerã.
Quanto ao ataque cometido por um pequeno grupo de vândalos contra a embaixada de Israel no Cairo, esta foi reprimida pelas próprias autoridades egípcias.
O senhor primeiro-secretário da Embaixada da República Islâmica do Irã no Brasil afirma que Israel desrespeita as resoluções das ONU.
Pois o desrespeito maior aconteceu quando a Assembleia-Geral aprovou a partilha da antiga Palestina e, no ano seguinte, logo após a proclamação do Estado de Israel, a nova nação foi invadida por seis exércitos hostis.
No que toca ao não cumprimento da sempre citada resolução número 242, segundo a qual Israel deveria se retirar dos territórios ocupados, omite-se o texto completo, que diz: "...para que Israel possa viver em paz em fronteiras reconhecidas e livre de ameaças de atos de força".
Depois de exaustivas negociações entre israelenses e palestinos, no decorrer de mais de 40 anos, as ditas fronteiras seguras jamais foram reconhecidas. No que toca à renúncia aos atos de força, basta contar o número dos milhares de mísseis disparados contra Israel oriundos da faixa de Gaza e do sul do Líbano.
O artigo do diplomata iraniano faz uma revelação surpreendente quando diz que "o despertar islâmico alcançou superioridade estratégica com relação aos sionistas".
O que vem a ser superioridade estratégica? Os atentados terroristas? Os foguetes disparados contra populações civis? O contínuo empenho iraniano em dispor de armas de destruição em massa?
O autor do texto afirma que Israel atravessa uma instabilidade interna, o que é verdade em função de sua democracia, com governo na maioria e oposição na minoria.
Eis algo desconhecido nos demais países do Oriente Médio, com especial destaque para o regime dos aiatolás.
Como diplomata, o senhor Mohaghegh deve conhecer a frase de Ambrose Bierce: "Diplomacia é a arte patriótica de mentir pelo próprio país".
Lê-se, ainda, no referido artigo, que os palestinos devem recuperar os seus direitos. Neste ponto, vale uma sucinta lição de história.
Durante 500 anos, o território palestino foi ocupado pelo Império Otomano. Depois, de 1920 a 1948, esteve sob mandato britânico. De 1948 a 1967, os palestinos se ornaram súditos do rei da Jordânia -onde, aliás, foram massacrados e enxotados por ocasião do Setembro Negro.
Seus proclamados direitos não têm antecedentes. A Palestina jamais foi uma nação autônoma com um respectivo governo, jamais teve capital, instituições independentes ou moeda própria. Tais direitos só afloraram após a ocupação da Cisjordânia por Israel.
Por que a ocupação? Porque Egito, Jordânia e Síria perderam uma guerra que iniciaram e tiveram parte de seus territórios invadidos. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Alemanha nazista cuja capital, Berlim, ficou longo tempo sob ocupação dos aliados.
Enfim, o antissemitismo prega que o judeu não tem lugar na sociedade. O antissionismo prega que Israel não tem lugar no mundo. Ou será que antissemitismo e antissionismo têm a mesma raiz?
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