quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Origem dos EUA

Antonio Delfim Netto*

Um brilhante intelectual acaba de publicar uma extraordinária história econômica dos EUA. 
Merece ser lida por quem se interessa pelo papel do Estado e dos estadistas na construção de instituições que tendem a promover o desenvolvimento econômico de um país num regime de liberdade de iniciativa dos seus cidadãos. O livro é "Land of Promise" (HarperCollins). O autor é o considerado Michael Lind.
Trata-se da saga da quase inacreditável construção política que, a partir da segunda metade do século 19, transformou uma coleção heterogênea de pequenas colônias inglesas na maior, mais eficiente, produtiva e democrática sociedade do mundo, com a enxuta e poderosa Constituição de 1787.
Essa construção exigia uma conveniente organização econômica, que foi entregue ao gênio Alexander Hamilton, secretário do Tesouro de 1789 a 1795.
A história revela que, desde o início, duas diferentes concepções dominaram a formação da sociedade americana. Uma, a hamiltoniana, que sugere que uma nação forte precisa de uma organização com um governo central estimulador da atividade privada e construtor da infraestrutura.
A outra, jefersoniana, acredita que a prosperidade é produzida pelo trabalho de pequenos produtores independentes e competitivos. A situação ao longo dos últimos 220 anos não é muito clara, mas podemos, no nosso tempo, incluir na primeira Franklin Roosevelt e, na segunda, Ronald Reagan.
Lind não deixa dúvida sobre o fato de que esse jogo entre as duas correntes foi fundamental para construir os EUA. Elas são visíveis na disputa Obama versus Romney.
O autor chama a atenção para o movimento cíclico desse desenvolvimento. Fala, na verdade, em três Repúblicas: a dos fundadores, a estabelecida após a guerra civil com Lincoln e a construída depois da depressão de 1929.
A construção de Hamilton se fez apelando para um inteligente protecionismo que negava Adam Smith. O progresso da Inglaterra foi feito com o protecionismo. E só quando dominou a economia mundial ela passou a defender o livre funcionamento dos mercados.
Vale à pena acompanhar a construção de Hamilton nos seus relatórios ao Congresso: sobre o crédito público (janeiro de 1790), sobre a criação de um banco nacional dos EUA (dezembro de 1790) e sobre as manufaturas (janeiro de 1791).
É hora de lembrar que do tamanho de Alexander Hamilton tivemos um Silva. José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838). A mediocridade política que nos persegue impediu que aproveitássemos seus projetos para terminar com a escravatura, desenvolver a siderurgia e tornar a educação primária obrigatória já nos anos 20 do século 19. O Brasil hoje seria outro.
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* Economista. Colunista da Folha
Fonte: Folha on line, 22/08/2012
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