Neurociência
Neurocientistas mapeiam área do cérebro relacionada a decisões e concluem: não é possível relaxar e 'viver o momento' (Thinkstock)
Escolhas passadas e a busca por boas recompensas faz com que reavaliemos constantemente as decisões a serem tomadas
Tentar "viver o momento”, pode ser impossível, de acordo com
neurocientistas da Universidade de Pittsburgh, Dukle e Vanderbilt, nos Estados Unidos. Os pesquisadores chegaram a essa conclusão mapeando áreas do cérebro de
macacos responsáveis pela tomada de decisões e pela avaliação de
resultados. Concluiu-se, então, que a atividade cerebral é formada por
pensamentos sobre o que já ocorreu e do que ainda está por vir. A
pesquisa foi publicada no periódico científico Neuron.
“Por que nossos pensamentos não são independentes um do outro? Por que
nós não conseguimos apenas viver o momento? Para uma pessoa saudável, é
impossível viver o momento. É agradável dizer que temos que aproveitar o
dia e desfrutar a vida, mas nossas experiências anteriores são muito
mais ricas do que isso e elas nos conduzem”, diz Marc Sommer, autor do
estudo quando estava na Universidade de Pittsburgh e, agora, professor
na Universidade de Duke .
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Neuronal Correlates of Metacognition in Primate Frontal Cortex
Onde foi divulgada: periódico Neuron
Quem fez: Marc A. Sommer e Paul G. Middlebrooks
Instituição: Universidade de Pittsburgh, de Duke e Vanderbilt, nos EUA
Dados de amostragem: 332 neurônios mapeados em três áreas do cérebro de macacos
Resultado: Atividade metacognitiva ocorre em uma região do cérebro que está relacionada com o monitoramento do desempenho, de conflito, e recompensa. Isso significa que é impossível tomar uma decisão sem levar em consideração o passado e o futuro.
Esta é a primeira pesquisa que avalia os sinais emitidos por neurônios
associados à metacognição, que é a capacidade de monitorar e controlar a
cognição, ou "pensar sobre pensar". “O cérebro tem que manter o
controle das decisões e dos resultados que essas decisões produzem", diz
Sommer. “Você precisa da continuidade do pensamento. Estamos sempre
tomando decisões ao longo da vida, pensando em outras coisas.
Acreditamos que isso ocorre de uma forma análoga ao processamento da
memória.”
A tese de Sommer era a de que a atividade neural ligada à metacognição
ocorria na mesma área responsável pela cognição em si — que é o córtex
frontal, parte do cérebro ligada à expressão da personalidade, à tomada
de decisão e ao comportamento social.
Mapeamento — Para comprovar sua teoria, Sommer e seus
colegas estudaram neurônios em três regiões frontais do córtex de
macacos vivos: o campo frontal dos olhos (responsável pela atenção
visual e pelos movimentos dos olhos), o córtex pré-frontal dorsolateral
(responsável pelo planejamento motor, organização e regulação) e a área
suplementar do campo dos olhos (chamada de SEF, envolvida no
planejamento e controle dos movimentos oculares rápidos e também ao
monitoramento do desempenho, do conflito interno e da auto-recompensa).
Eles, então, submeteram os macacos a tarefas de tomadas de decisões
visuais, que envolviam luzes piscando aleatoriamente e uma luz
dominante, em um quadrado de papelão. Eles tinham que lembrar e mostrar
onde a luz dominante aparecia e adivinhar se estavam corretos. Os
pesquisadores observaram que todas as regiões mapeadas nesse processo
estão relacionadas à tomada de decisões, mas que a atividade
metacognitiva ocorria só na SEF.
Auto-recompensa — “O SEF é uma área complexa do
cérebro relacionada com aspectos motivacionais do comportamento”, diz
Sommer. “Se pensarmos que vamos receber algo de bom, a atividade
neuronal tende a ser elevada no SEF. As pessoas querem as coisas boas da
vida, e para continuar recebendo essas coisas boas, elas têm que
comparar o que está acontecendo agora com as decisões tomadas no
passado.”
A compreensão da consciência é um tema ainda a ser muito explorado
pelos neurocientistas. Ao estudar a metacognição, ele diz, é possível
examinar como um processo cognitivo influencia o outro.
Doenças neurológicas — Sommer acredita que o estudo
poderá ser aplicado em pesquisas com pessoas com problemas mentais. “A
esquizofrenia e a doença de Alzheimer estão relacionadas ao processo de
formação do pensamento, que é constantemente interrompido. Eles têm
dificuldade de manter um fluxo de pensamento e memórias de decisões
tomadas para orientar o comportamento posterior, sugerindo um problema
com a metacognição.”
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Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/tomar-decisoes-procurando-viver-o-momento-e-impossivel-afirma-pesquisa
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