sábado, 27 de outubro de 2012

Queria ser uma pessoa

Para não ter de dançar - amputou uma perna
(deixou até de visitar os amigos),

para não combater e gesticular indecências - arrancou os dedos
(era incapaz até de tirar a pele a uma maçã),

para não ouvir palavras obscenas - arrancou as orelhas
(deixou também de ouvir as belas),

para não lhe chamarem narigudo - torceu o nariz
(e ficou com ele achatado),

para não ver os sapos - furou os olhos
(já não pode contemplar as rosas),

para que não lhe escapasse alguma incoerência - cortou a língua
(também não teve mais palavras gentis para a amada).

Cada dia que passava
fazia uma operação plástica ao corpo
para ficar igual aos outros, a todos os outros.

(Versão minha a partir da tradução castelhana reproduzida em Poesía ucraniana del siglo XX - Una iconografia del alma; prólogo, selecção e tradução de Iury Lech, Litoral/Ed. UNESCO, Torremolinos/Málaga, 1993, p. 175).
Fonte: http://arspoetica-lp.blogspot.fr/search/label/Vasyl%20Holoborodko

Nenhum comentário:

Postar um comentário