sábado, 24 de novembro de 2012

Rita Lee e Fábio Koff

 Moisés Mendes*
 
Eu um dia fui jovem. Oscar Niemeyer também. Esses moços do Kiss, que levaram milhares de guris de preto ao Gigantinho, um dia foram jovens. Nunca como hoje os jovens sustentaram tanto suas referências e suas ilusões em gente mais velha, na música, na literatura, na política. Sem a velhice ativa de Mick Jagger, de Rick Wakeman, de Roberto Carlos, o mundo ficaria dependente do pagode, do axé e do Luan Santana.

O consolo é que hoje os velhos tardam cada vez mais a envelhecer. Rita Lee, uma idosa de 64 anos, mostrou o traseiro (expressão de velho) em um show recente. Ayres Britto aposentou-se compulsoriamente como ministro do Supremo aos 70, mas parece ter 50. Fábio Koff elegeu-se presidente do Grêmio aos 81. Hélio Ricciardi, o poeta do Alegrete, chegou aos 86 ao pico da sua poesia bem-humorada.

Com que idade, afinal, se fica velho hoje? Belchior pode não saber, mas Vicente Falconi sabe e você saberá logo adiante. Falconi é o inventor da qualidade total no Brasil. Recomenda práticas de gestão que dependem de ideias jovens. Remoçar sempre é o apelo com que vende mais competitividade, mais inovação. Só os jovens podem virar uma empresa pelo avesso.

Pois Falconi tem 72 anos. Está há décadas no comando do Instituto de Desenvolvimento Gerencial, de Minas. Lidera mais de mil cabeças, num ambiente em que não há trabalho braçal, só os cérebros carregam peso.

O instituto passará a ter seu nome, e neste mês todos os funcionários, que também são sócios, assumiram o compromisso de se afastar aos poucos da empresa quando completarem 55 anos. Na aposentadoria sumária, os executivos venderão suas ações aos mais jovens. Perderão os postos e o direito de continuar ganhando dinheiro com o negócio que fizeram crescer. Darão passagem aos que vão chegando. Assim determina o darwinismo que eles fomentam.

A turma de Falconi já salvou muitas empresas e ofereceu lições de gestão ao governo gaúcho. O consultor não tem mais função executiva no instituto, mas ainda é o líder. Sua meta é ausentar-se completamente do trabalho quando completar 80 anos. Aí, sim, vai se considerar velho. Quer sair com a idade com que Fábio Koff volta ao Grêmio cheio de projetos revolucionários.

Claro que você já sabe que os executivos de Falconi, aposentados precocemente, se transformarão em consultores independentes. Vão orientar os clientes a fazer o que eles mesmos fizeram com suas carreiras. Que rejuvenesçam suas firmas, que não deixem cinquentões se atravancarem no caminho. É cruel, mas assim avançam as corporações.

Não há contradição entre o Falconi que pede espaço ao novo e o Falconi que não larga o osso. Veteranos sobrevivem nesse meio como palpiteiros dos negócios dos outros, e alguns são bem pagos, porque são muito bons. Falconi é o melhor de todos.

Vendem-se consultoria e palpite para governos, empresas, ONGs. Um amigo assistiu a palestras em que, em jogral, dois consultores, um de 90 anos e o outro de quase cem, falaram da revolução nas comunicações. Um deles comparou: nesse novo espetáculo, estão saindo os lentos e pesados elefantes e entrando os leves acrobatas do Circo de Soleil. É dureza virar cambalhotas nesse picadeiro, ainda mais com uma tromba.

O trabalho formal, cotidiano, não quer saber de velhos. Sobram a militância na filantropia, a arte, a jardinagem ou a palpitagem. Você escolhe. Penso, quando chegar minha hora, em me dedicar à palpitagem. Já estou treinando.
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Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a3961633.xml&template=3898.dwt&edition=20856&sectio

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