segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Salman Rushdie e John Le Carré põem fim a briga de 15 anos

Uma das rivalidades mais ruidosas do meio literário de língua inglesa nos últimos anos chegou ao fim esta semana. O indiano Salman Rushdie e o britânico John le Carré, que passaram mais de uma década trocando farpas devido à polêmica em torno do romance "Os versos satânicos", fizeram as pazes por meio da imprensa, anunciou o jornal "The Times".

A desavença teve origem em 1989, quando le Carré publicou um artigo no jornal "The Guardian" criticando a decisão de Rushdie de não suspender a publicação de "Os versos satânicos", mesmo depois de o aiatolá Khomeini emitir um decreto religioso (fatwa) pedindo o assassinato do escritor e ameaçando todos os envolvidos na cadeia de produção e venda do livro, por considerá-lo ofensivo ao Islã. Na época, foram registrados dezenas de atentados contra livrarias nos Estados Unidos e na Europa. O tradutor japonês do romance foi assassinado e o italiano e o turco sofreram ataques graves.

Rushdie não reagiu ao artigo na época mas, em 1997, quando le Carré reclamou publicamente por ter sido acusado de antissemitismo, o indiano publicou uma carta no "Guardian" alfinetando o autor de "O espião que sabia demais": "Seria mais fácil simpatizar com ele se não tivesse se engajado tão prontamente em outra campanha de vilipendiação de um colega escritor".

Seguiu-se um intenso e pitoresco debate na seção de correspondências do "Guardian". Le Carré tentou explicar sua postura sobre o fatwa: "Minha posição era que não há lei na vida ou na natureza que determine que grandes religiões podem ser insultadas impunemente". Rushdie disse que o episódio servia para lembrar a todos como le Carré podia ser um "bundão pomposo". E até o jornalista Christopher Hitchens, amigo de Rushdie, se animou a exercitar a verve: "A conduta de John le Carré nas páginas deste jornal é parecida com a de um homem que, tendo feito suas necessidades no próprio chapéu, se apressa a recolocá-lo transbordando na cabeça".

Nos anos seguintes, o desentendimento entre os dois se manifestou com frequência, como na recente autobiografia publicada por Rushdie, "Joseph Anton", na qual o autor dedica algumas páginas a lamentar a postura de le Carré. E cita como contraponto o caso do recluso Thomas Pynchon, que fez questão de oferecer-lhe um jantar de desagravo em Nova York (depois do qual nunca mais entrou em contato). 

Mês passado, porém, no festival literário de Cheltenham (Inglaterra), Rushdie mostrou-se arrependido da briga: "Preferia que não tivéssemos feito isso. Ele é um escritor que admiro muito. Acho que 'O espião que sabia demais' é um dos grandes romances britânicos do pós-guerra". Procurado pelo "The Times", le Carré pôs um ponto final na discussão: "Também lamento a desavença. Admiro Salman por sua coragem e seu trabalho, e respeito sua posição".
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Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2012/11/12/salman-rushdie-john-le-carre-poem-fim-briga-de-15-anos-474640.asp

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