terça-feira, 23 de abril de 2013

O mal

Hélio Schwartsman*
 

"Por que jovens que cresceram e estudaram aqui [nos EUA] e eram parte de nossa comunidade e de nosso país recorreram a tal violência?", indagou-se Barack Obama após a prisão de Dzhokhar Tsarnaev, suspeito de ter plantado as bombas na maratona de Boston. Em outras palavra, o que levou um garoto, descrito como "doce" e "amigável" por quem o conhecia, a praticar um ato de terror? 

Nas últimas décadas, psicólogos e sociólogos que se dedicaram a estudar "o mal" chegaram a conclusões interessantes. A mais polêmica é a de que o "puro mal" só existe em nossas cabeças. De um modo geral, até o mais frio assassino acredita ter razões que justificam seu ato. 

A personalidade, é claro, importa. Psicopatas e narcisistas, por exemplo, têm maior chance de envolver-se em agressões (as cadeias têm proporcionalmente mais pessoas com esse perfil do que a população geral), mas isso é só parte da história. 

Experimentos conduzidos por psicólogos sociais mostraram que mesmo pessoas tidas como normais cometem verdadeiras barbaridades, se a situação as levar a isso. Philip Zimbardo, por exemplo, fez com que estudantes de Stanford representando o papel de guardas numa penitenciária fictícia logo praticassem abusos muito reais contra seus prisioneiros. 

O que a literatura psicológica mostra é que a maioria dos atos de violência e crueldade pode ser reduzida a poucas causas principais. Na classificação proposta por Jonathan Haidt, as duas primeiras são ambição e sadismo, mas elas têm pouca relevância prática. É raro alguém matar só para ter lucro e mais ainda para extrair prazer. As outras duas são alta autoestima e idealismo moral. Curiosamente, são duas características que tentamos incutir em nossos filhos desde pequenos. E, quando elas se combinam para produzir um sujeito cheio de si acreditando agir a mando de um Deus ou de uma ideologia infalíveis, o pior acontece. 
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* Colunista da Folha

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