quarta-feira, 29 de maio de 2013

A visão de negócios do banqueiro dos pobres

Mercado Ético
Na ESPM, Yunus lança primeiro centro de negócios sociais da América Latina. / Foto: João Lebrão
 
Ontem (27), o auditório da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo ficou pequeno para receber a grande platéia que queria ouvir Muhammad Yunus, economista vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2006 e uma espécie de guru do empreendedorismo social. Conhecido como o banqueiro dos pobres, o economista bengalês esteve na cidade para o lançamento do Yunus ESPM Social Business Centre, uma iniciativa tocada em parceria com a tradicional faculdade com o objetivo de fomentar negócios sociais no Brasil. Para tanto, o centro atuará sob três pilares: cursos de capacitação, pesquisa e incubação de empresas. “Queremos que essa iniciativa seja um modelo para toda a América Latina. Vejo muitas possibilidades para resolver os problemas que estão a nossa volta”, conta Yunus.

O bengalês é o criador do Grameen Bank, um banco especializado em microcrédito. Fundado em 1976, o objetivo da instituição é acabar com a pobreza do mundo. O projeto teve início quando Yunus emprestou 27 dólares para 42 mulheres comprarem matéria-prima e, assim, confeccionarem seus artesanatos. O empréstimo foi pago e a experiência deu origem ao negócio social. “As vezes nos vemos pequenos demais diante de grandes problemas. Mas não importa o quão grande esses problemas sejam. Tente colocá-los em nível individual. Se você conseguir ajudar a uma pessoa, poderá replicar a solução em maior escala, atingindo dezenas, centenas, milhares e milhões”, explica ele. “Foi assim que fiz. Comecei a emprestar pequenas quantias de dinheiro em uma vila, de modo que as pessoas pudessem escapar dos tubarões do empréstimo. Hoje temos 8 milhões de clientes no Grameen Bank, sendo que 97% deles são vencedores, pois conseguem gerar renda e pagar seus empréstimos”, orgulha-se.

Para Yunus, os problemas sociais são oportunidades. Segundo ele, toda vez que procura resolver o problema de alguém, acaba criando um novo negócio social. “Fizemos um hospital para operar cataratas. Hoje, com capacidade para 10 mil intervenções por ano, cada operação custa apenas 1 dólar. Mesmo assim, o investimento se pagou em quatro anos”, exemplifica.

A importância de se ter uma operação economicamente sustentável foi bastante enfatizada pelo banqueiro. Ao contrário de iniciativas filantrópicas, onde pessoas de posse colocam dinheiro sem que aquilo necessariamente apresente algum retorno, um negócio social é um investimento com retorno. Obviamente a empresa não deve ter como principal foco a geração de dinheiro, mas sim a solução dos problemas das pessoas. “Não queremos fazer dinheiro, mas, sim, fazer as coisas acontecerem. Quero fazer negócios que sejam bons para os outros. Espero que esse centro fomente muitas idéias com esse propósito”, enfatiza Yunus, que completa: “Isso não quer dizer que o idealizador de um negócio social deva passar fome. Não é assim. A iniciativa não deve gerar dividendos financeiros, mas deve sim distribuir salários no mesmo nível dos praticados no mercado.”
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Fonte: Mercado Ético

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