sábado, 12 de outubro de 2013

As balas da infância

Martha Medeiros* 
 
Estava num avião da TAM observando a comissária oferecer balas aos passageiros, como de costume, antes de a aeronave decolar. Nunca peguei uma, talvez porque a criança em mim se manifeste: 10h da manhã, antes do almoço? Seis da tarde, antes do jantar? Minha mãe vai dar a maior bronca!

Na verdade não fico muito tentada por aquelas balas. Se fosse Frumello ou Sete Belo, seria diferente.

Sempre tive tara por bala de morango, ou de frutas vermelhas, ou de qualquer coisa vermelha: cereja, framboesa e família. Eram as minhas preferidas entre as balas azedinhas. As azedinhas iam comigo ao cinema e adocicavam as noites de sábado em que ficava em casa – eram minha droga lícita (mesmo assim, as comia escondida, sendo filha de dentista). Meu sonho secreto? No aniversário, ganhar as azedinhas que vinham numa lata enorme. Preferiria ganhar a lata a pulseirinhas, porta-retratos, presentes de mocinha. Ganhei uma única vez, não lembro quando nem de quem, desconfio até que comprei.

Mas entre as balas vermelhas, prefiro até hoje aquelas vagabundas, as vira-latas das balas, embaladas em papel transparente, sem marca, sem pedigree. As que estão disponíveis onde menos se espera, em balcões de farmácia, ao lado dos caixas de lojas, ofertadas de graça.

Lembro das pastilhas de anis da marca Garoto - existem, ainda? Havia diversos sabores (canela, hortelã), mas as de anis eram as minhas eleitas no recreio do colégio. Daria tudo para voltar no tempo por causa daquelas pastilhas – e só por elas, acho.

Gostava de Mentex também, já que falamos de hortelã, porém mais ainda de uma pastilha oval que não lembro bem a marca, era também azedinha, refrescante, vinha numa caixa verde, que fim levou, quem pode me recordar o nome?

Tinha a bala gasosa, da qual nunca fui fã, redonda demais, grande demais, cheia de si. E quanto às de caramelo e doce de leite, blagh. Sempre fui refratária ao que é enjoativo. Preferia bala de banana, bem artesanal, pobrinha, humilde e doce como um pecado mortal.

Bala de coco era legal também. Ainda é. Mas desenvolvi uma resistência que não se explica. Dói na cárie que já não tenho, será isso? Ou é bala branca que não combina com bala?

Bala tem que ter cor, e nisso as balas Soft eram imbatíveis (escrevo “eram” sem saber se ainda são, já não circulo pelo corredor das tentações no supermercado, tenho um compromisso com a balança e o bom senso). Duras e eternas, as balas Soft – até mesmo as amarelas.

A jujuba me parecia a ralé das balas. Já as soberanas são as que finalizam essa crônica, minhas preferidas para sempre: as balas de goma. Meu Deus, as balas de goma. Morreria por elas. Mas não hoje, não agora, que agora sou adulta (em termos) e o que me interessa, mesmo, é permanecer magra.
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* Jornalista. Escritora.
Fonte: ZH on line, 13/10/2013

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