sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Prémio Nobel da Literatura: Alice das Maravilhas

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Alice Munro, nascida em 1931, demonstra há décadas um talento imenso para aquela que é uma das artes mais difíceis para quem faz literatura: escrever contos. Contos completos, profundos, simplesmente maravilhosos. E é precisamente por ser «mestra das histórias breves contemporâneas» que os académicos de Estocolmo lhe atribuíram o Nobel da Literatura de 2013. 

A enorme capacidade de escrita - no seu inconfundível inglês, essencial e poético, em que nem uma palavra é escolhida ao acaso - une-se nas suas histórias ao dom de um olhar acutilante e indagador. O resultado é a extraordinária capacidadede chegar ao cerne das histórias e da vida. Com uma atenção irresistível, com uma grande delicadeza, sinais de uma sólida inteligência.

Nascida em Wingham, no Ontário, Canadá, há 82 anos, Alice Munro começou a escrever durante a adolescência, mas só aos 37 anos conseguiu publicar o seu primeiro conjunto de contos, "Dance of the happy shades", que rapidamente suscitou o favor da crítica.

Nesse mesmo ano (1968) obtém o "Governor General's Award", o principal prémio literário canadiano, que vencerá mais duas vezes.

Ainda que a maior parte dos seus contos decorra nas pequenas cidades do sudoeste do Ontário, Murno é capaz de colher temas, estados de ânimo e tonalidades com um autêntico verniz de universalidade.

Mães, filhas, amantes, pais, amigas, irmãs e irmãos; adolescência e terceira idade; amores que nascem, explodem, queimam, amores que às vezes terminam e às vezes sobrevivem; esperanças laborais, lutas, sonhos, doenças, solidão e doença, gestação e aborto (o grito desesperado e brutal de "My mother's dream" é uma das páginas mais significativas da literatura que lida com a narração de uma interrupção da gravidez).

Entre todas as histórias, a sua obra-prima é talvez "The bear came over the mountain", um dos primeiros casos em que a literatura se envolveu com a doença de Alzheimer. E com os temas da identidade, perda e amor que ela coloca.

«Munro é apreciada pela sua arte subtil do conto, imbuída de um estilo claro e de realismo psicológico», descreveu o comité numa biografia da escritora. 

«As suas histórias passam-se frequentemente em pequenas localidades, onde a luta por uma existência socialmente aceitável muitas vezes resulta em relações tensas e conflitos morais - problemas que resultam de diferenças geracionais e ambições de vida que colidem», continua. 

«Os seus textos descrevem frequentemente "eventos do dia a dia, mas decisivos; verdadeiras epifanias que iluminam a história e deixam questões existenciais aparecer num relâmpago", sublinha a academia.

Entre os livros publicados em Portugal incluem-se "Amada vida" (2013),"O progresso do amor" (2011), "Demasiada felicidade" (2010), "O amor de uma boa mulher" (2008), e "Fugas", todos editados pela Relógio d'Água.
Em julho, Alice Munro declarou publicamente que não voltaria a escrever. Mas quando soube que tinha ganho o Nobel, afirmou que poderia mudar de ideias...
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Giulia Galeotti
Fonte: In L'Osservatore Romano
Com agências
© SNPC | 10.10.13

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