quarta-feira, 6 de novembro de 2013

“Todos podem inovar e ser criativos”

 
Para inovar nas empresas, não é preciso, necessariamente, gastar muito, nem mesmo criar produtos revolucionários. Inovação está muito mais ligado à reinvenção do negócio e de seus processos. Como conta o professor Rivadávia Drummond, o resultado é dinheiro novo no bolso. Reitor do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), ele explica que a inovação depende de condições que favoreçam o compartilhamento e incentivem a criatividade. Drummond é um dos palestrantes do 22º Congresso de Marketing ADVB-RS, hoje, em Porto Alegre. As vagas para participação estão esgotadas.

Confira trechos da entrevista que Drummond concedeu por e-mail.

Zero Hora – O que é inovar?

Rivadávia Drummond – Inovar é gerar valor para as organizações na interface entre tecnologia e modelos de negócios. Na perspectiva da inovação tecnológica, as organizações se reinventam criando produtos e serviços, aperfeiçoando os existentes, redesenhando processos. Na perspectiva da inovação no modelo de negócios, bem menos conhecida e por vezes ignorada, desafia-se a lógica pela qual uma organização “ganha dinheiro” em suas propostas de valor, cadeias de suprimentos e clientes-alvo. A experiência é desafiadora quando combinamos as duas perspectivas. O iPod, da Apple, é um exemplo interessante de liderança de mercado ao combinar inovação tecnológica de produto, o iPod, com inovação no modelo de negócios na cadeia de suprimentos, o iTunes Store. Gosto sempre de citar o que dizem empresários que descobriram na inovação fontes de crescimento e competitividade: “inovação é dinheiro novo no bolso!”.

ZH – Qual é a estratégia para ter sucesso ao inovar?

Drummond – É preciso ter a clareza de que não existe uma receita de bolo ou fórmula mágica. Alunos de escolas de negócios são treinados para buscar a única resposta certa de forma rápida e inequívoca: o ambiente externo é sempre analisável e o grau de intrusão da organização nesse ambiente deve ser ativo e vigilante. Há casos em que isso funciona e outros, não. Organizações inovadoras são hábeis em lidar com estratégias de aprendizado: vão aprendendo ao longo da caminhada pela experimentação, criação, design e prototipagem.

ZH – Como formar as equipes?

Drummond – A inovação depende da criação de contextos capacitantes, em outras palavras, conjunto de condições criadas, estimuladas e recompensadas para favorecer o compartilhamento, a abertura a novas ideias, a tolerância aos erros honestos e a solução colaborativa de problemas. É lamentável perceber que matamos a criatividade, o empreendedorismo e a inovação no seio da família, nas escolas e – pasmem! – nas empresas. Quanto aos perfis, defendo a diversidade cognitiva: é preciso reunir pessoas que tragam diferentes formações e informações.

ZH – Como despertar o espírito inovador das equipes?

Drummond – Primeiro é preciso entender que nós todos podemos inovar, ser criativos e espalhar as boas novas: em qualquer organização a inteligência está distribuída, e é necessário a libertação do poder coletivo. Uma forma para começar a estimular a inovação, além do trabalho institucional para criar e desenvolver o contexto capacitante em todas as suas dimensões, é fazer com que as pessoas trabalhem também com o lado direito do cérebro (mais ligado à criatividade). Somos “adestrados” na escola a deixar a dominância do lado esquerdo do cérebro em todas as suas dimensões de análise, lógica e pensamento quantitativo. Precisamos estimular também o lado direito nas dimensões da criatividade, imaginação, pensamento não verbal e emoções. Ao invés do “ou” devemos abraçar o “e”: educação que estimule e desenvolva o lado esquerdo e o lado direito do cérebro.

ZH – Inovar custa caro?

Drummond – Certa vez me perguntaram se a gestão do conhecimento custava caro. Respondi que a ignorância custa muito mais caro. Não inovar não é mais uma opção, já que inovação é fonte de crescimento para uma organização. A forma predominante de inovação nas organizações é incremental – pequenas melhorias cotidianas em produto, design, qualidade e serviço ao cliente. É preciso acabar com o mito de que inovação é algo blockbuster ou o Santo Graal de se fazer iPads. A inovação radical, aquela que altera a rota tecnológica mudando toda a indústria, é vista por pessoas pouco afeitas ao tema como a única forma de se inovar. Pouco valor é dado à inovação incremental que responde por 80% do investimento em inovação de boa parte das organizações.
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leandro.brixius@zerohora.com.br
Reportagem por LEANDRO BRIXIUS
Fonte: ZH on line, 06/11/2013

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