terça-feira, 13 de maio de 2014

Um elogio aos curiosos

 FABRÍCIO CARPINEJAR*
 
Nem humildade, nem ambição: curiosidade.

A curiosidade é humildade e ambição ao mesmo tempo.

Na curiosidade, temos humildade para aprender e ambição para não desistir de buscar.

É uma perfeita medida. Os estados de espírito terminam moderados, neutralizados.

A curiosidade freia que a pessoa seja megalomaníaca e também inibe que seja uma pobre coitada.

O problema do humilde é que ele quer ser santo, o problema do ambicioso é que ele quer ser rei. A curiosidade escapa desses dois extremos da ganância.

O curioso é apenas curioso. Não pode ser mais do que curioso. Está protegido da fama e da doença do excesso.

Ele é um insistente, um incansável. Não fica reclamando, vai perguntando e correndo atrás para descobrir o que falta.

Ele é menor para que a vida se torne maior. Ele é discreto para que suas descobertas produzam visibilidade.

Ele faz perguntas idiotas para gerar respostas inteligentes.

Ele não tem vergonha das suas dúvidas, sempre desconfia que tem mais a saber.

Ele não mentirá (o mentiroso é um ansioso), já que prefere desvendar a verdade.

Ele é independente, enfrenta a banalidade e a complexidade com desembaraço, acolhe o óbvio e o abstrato com democrática simpatia.

Ele é um interessado intenso. Não finge atenção, é atenção. Está satisfeito com tudo porque completará com sua procura.

Não é acomodado, é observador. Realiza seus desejos com espontaneidade. Como se fossem naturais. Não é espalhafatoso em suas intenções. Conclui antes de anunciar. Ao estudar sobre aviação, é capaz de voar. Ao estudar sobre orquídeas, é capaz de cultivá-las.

Não cria empecilhos para protelar nenhum sonho. Dispensa o esforço da desculpa pelo entusiasmo da interrogação.

O curioso jamais é ingrato. Se recebe um presente, será eufórico, ainda que seja uma lembrança. É fácil de ser agradado. Não repete a mesma área, quer ir além.

Pode ganhar um CD brega de amigo-secreto e irá ouvir com dedicação. Para um dia dizer que ouviu. Para entender o motivo da breguice. Não fará a cena de deboche e de engano que todos realizam quando não são correspondidos com sua idealização.

Não joga nada fora, nenhuma pessoa. Conversa com igual atenção com o zelador, o eletricista, o empresário, a manicure. Questiona sem parar modos diferentes de conduta, tenta entender como aquela personalidade se formou, quais são suas fragilidades e forças. Assim desarma seus preconceitos com respeito e intimidade.

Não será melhor do que o outro, pois sempre se melhora com o outro.
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* Poeta. Escritor.
Fonte: ZH online, 13/05/2014 
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