sábado, 12 de julho de 2014

“Não houve um fracasso igual”

JAIME SCHULTZ

Especialista em psicologia esportiva

A professora da Universidade do Estado da Pensilvânia (EUA) Jaime Schultz, especialista em psicologia esportiva e integrante da Sociedade Americana de História do Esporte, está habituada a estudar fracassos em todo tipo de modalidade. Ainda assim, ela afirma nunca ter visto nada semelhante à derrota da Seleção para a Alemanha, em casa, durante a semifinal da Copa.

A derrota brasileira se compara a alguma outra tragédia esportiva?

Houve outras derrotas catastróficas na história do esporte, incidentes em que times ou atletas pareceram implodir, mas não houve outro fracasso como o do Brasil diante da Alemanha. Há alguns elementos que tornam essa derrota especialmente trágica: ocorreu no país-sede, o Brasil gastou muito dinheiro para receber a Copa, e o país é a nação de maior sucesso na história do torneio, com cinco taças. Tudo isso cria um pano de fundo importante. Ainda há a maneira como o Brasil perdeu – levando tantos gols tão rapidamente e em número recorde para uma semifinal. Somando tudo isso, foi um desastre.

Qual a sua impressão sobre a reação dos torcedores brasileiros?

A imprensa americana divulgou muitas fotos de brasileiros durante o jogo. Alguns aparentavam uma profunda descrença. Outros choravam e pareciam estar com o coração partido. Foi uma maneira de transmitir a gravidade da derrota do país sem necessidade de qualquer palavra. As imagens eram mais poderosas do que quaisquer palavras.

O Brasil perdeu a final da Copa de 1950 em casa, mas, naquela época, o rádio era o meio de comunicação mais comum. As novas tecnologias ajudam a perpetuar esse fracasso e a aumentar seu impacto social?

As novas tecnologias criam um novo tipo de memória cultural. As imagens, tuítes, memes, a agonia expressa no Facebook, Instagram... Embora a tecnologia pareça deixar tudo tão fugaz, evanescente, creio que as mensagens e imagens serão arquivadas e continuamente recuperadas, tornando mais difícil deixar a derrota para trás.

Se não há como esquecê-la, é possível superar essa derrota?

Não quero soar pessimista, mas não acredito que os brasileiros conseguirão esquecer isso algum dia. Também não acredito que o mundo deixará os brasileiros esquecerem. Certamente, o país vai seguir adiante e usar isso como um marco histórico em muitos sentidos, mas jamais será esquecido.

Você assistiu ao jogo? O que passava por sua cabeça enquanto o Brasil era esmagado?

Eu assisti à maior parte do primeiro tempo, e conferi o jogo algumas vezes na segunda etapa para ver se havia alguma mudança. Tive de desligar a TV porque era doloroso demais. Fiquei tremendamente triste pelo Brasil. Eu sei que eles vão se recuperar. Certamente, haverá mais conquistas de Copas, mas, neste momento, a dor é muito grande.
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marcelo.gonzatto@zerohora.com.br
Reportagem por MARCELO GONZATTO
Fonte: ZH online, 12/07/2014

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