quinta-feira, 31 de julho de 2014

Obra de escritor suíço é comparada à série Twin Peaks

Joël Dicker, escritor é atração na Flip<br /><b>Crédito: </b> Luiz Gonzaga Lopes / Especial / CP
 Joël Dicker, escritor é atração na Flip
Crédito: Luiz Gonzaga Lopes / Especial / CP 

Joël Dicker, uma das atrações da Flip, em Paraty, no Rio de Janeiro, conversou com o Correio do Povo

O escritor suíço Joël Dicker, uma das atrações da Festa Literária de Paraty (Flip), no Rio de Janeiro, veio ao evento apresentar seu livro, "A Verdade Sobre Harry Quebert", obra que já foi comparada à série de televisão "Twin Peaks", de David Lynch. Na obra, o desenrolar da investigação policial sobre a morte de Nora Kellergan, de 15 anos, ocorrida em 1975, numa pequena cidade dos Estados Unidos, traz à tona as escolhas sentimentais de pessoas que, por uma razão ou por outra, abandonaram sonhos e ambições, e reflexões sobre a ideia do sucesso, que pode assustar mais do que o fracasso. Harry Quebert é um escritor de sucesso que é acusado do crime e Marcus Goldman, um autor de sucesso que deve tudo a Harry, faz sua investigação paralela e colocará a história em livro para inocentar Harry. Na verdade, também é uma história de lealdade entre amigos e escritores e também entre amores, de Harry por Nora, de Nora por Harry, de Jenny por Harry, de Travis por Jenny e assim por diante.

Na França, a obra vendeu 1 milhão de exemplares em 2012. A Verdade Sobre Harry Quebert é o seu segundo romance (ele já escreveu seis livros ao todo). Com 28 anos, Dicker abandonou o emprego no Parlamento de Genebra no final da década passada para se tornar escritor em tempo integral. Em conversa rápida na Casa Intrínseca da Flip, em Paraty, Dicker falou sobre o livro, os personagens e sobre literatura em geral.

Correio do Povo - Perto do final do livro, Harry diz a Marcus que o bom livro é aquele que lamentamos ter terminado. O que você tem a dizer sobre esta frase?

Joël Dicker – Você que leu pode me dizer melhor (risos). É difícil dizer porque é o Harry falando para o Marcus. No livro, tento inventar frases que se misturem entre os capítulos. Não sigo uma regra. Neste final, eu compartilho a verdadeira voz de Harry Quebert, de que o escritor pode se sentir mal pelo livro ter terminado. A diferença entre séries de TV e DVDs para os livros é que é o leitor que decide o tempo que vai levar na leitura, pode ser em um dia ou em um mês, enquanto que numa série há um capítulo e há um final numa data marcada. O leitor controla o tempo, a única coisa que ainda não pode controlar é o final. Pode parecer óbvio, mas é a verdade.

CP - Existem algumas pessoas reais que inspiram os personagens do livro?
Dicker – Todos os personagens Harry, Marcus, Jenny, Nora eu criei a partir das referências que eu tenho em relação ao tipo de pessoa descrita. Claro que existem alguns detalhes, pois o Marcus está com a mesma idade que o Harry escreveu o seu livro de sucesso, As Origens do Mal. O que eu quero dizer é que não me sinto tão perto deles. Não conheço ninguém igual. São pessoas que eu criei a partir de várias referências de idades, classes e também de viagens, pois desde pequeno passei as férias de família na Nova Inglaterra, principalmente no Maine.

CP - O que você conhece da literatura brasileira?
Dicker – Eu li recentemente numa edição em inglês ao livro de José Mauro de Vasconcellos, "Meu Pé de Laranja Lima". Me senti parte da história, daquele menino num lugar distante como o Brasil. Eu fiquei muito impressionado com a narrativa e a atmosfera do livro. E agora estou lendo numa edição em francês a obra "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis. É a minha primeira vez no Rio e em Paraty e Machado consegue dar uma ideia ampla de como era o Rio no final do século 19, daquela atmosfera de grande Brasil, a partir deste narrador morto.

CP - O seu livro é sucesso de público, mas também faz algum sucesso entre os escritores, principalmente os iniciantes. Você tem algum conselho para eles?

Dicker – Bom, primeiro quero dizer que também sou iniciante, apesar de já ter vendido muitos livros, não me considero um veterano. No livro, Harry dá conselhos para Marcus no início de cada capítulo. Faz parte do método de criação do livro dentro do livro. O meu conselho aos escritores iniciantes é que trabalhem duro e continuem trabalhando, quando estiverem com vontade de parar, que tenham uma ideia e uma estrutura do que querem. Existem muitas coisas para fazer na vida, mas para um escritor não há saída, há a vida e a escrita. Que vivam, mas que escrevam mais. 
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Fonte: Correio do Povo online, 31/07/2014

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