quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A difícil convivência entre celebrações litúrgicas e telemóveis

Angela Cave*
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Famílias inteiras navegam nos seus “smartphones” enquanto tomam a refeição nos restaurantes. Estudantes enviam mensagens durante as aulas. Pais falam ao telefone quando assistem a eventos desportivos ou peças de teatro dos seus filhos.

Não surpreende que os telemóveis afetem também as celebrações nas igrejas.

Tornou-se comum as paróquias destacarem nos seus boletins a necessidade de silenciar os telemóveis, e leitores pronunciarem avisos sobre o mesmo tema antes das celebrações, lembrando a assembleia que está num espaço de oração.

Em algumas comunidades, os paroquianos prestam atenção aos avisos, com as poucas exceções a serem protagonizadas por pessoas que trabalham em emergências ou que não sabem como colocar os telemóveis no silêncio. Noutras paróquias, os toques, o envio de mensagens ou até fazer ou atender chamadas durante as liturgias podem distrair o presidente e os outros fiéis.

Dorothy Sokol, que trabalha na paróquia de Nossa Senhora da Graça, diocese de Albany, próximo de Nova Iorque, dá-se conta de telemóveis a tocar e pessoas a escrever nos seus equipamentos, apesar dos avisos afixados e dos anúncios feitos em sentido contrário.

Algumas pessoas não se apercebem de que estão a ofender os outros, diz, acrescentando que, no entanto, isso distrai-a, especialmente quando os pais deixam os filhos entretidos com jogos eletrónicos nos telemóveis.

Alguns paroquianos usam o “tablet” ou o “smartphone” para seguir as leituras bíblicas da missa, e nesse caso «há espaço» para essa prática, assinala.

No que diz respeito ao envio de mensagens, «as pessoas têm de estar conscientes de que estão na igreja a rezar com uma comunidade, e tentar, se possível, afastar as distrações», declarou a colaboradora paroquial ao jornal da diocese de Albany.

Quanto aos adolescentes imersos nas mensagens, Dorothy não sabe qual a melhor atitude: «O que é que lhes dizemos? Repreendemo-los quando os pais estão sentados ao lado deles e não dizem nada?».
«A última coisa que eu quero é que eles deixem de vir. Temos de pensar qual é a melhor solução. Infelizmente, perguntar “o que é que Jesus faria” não é uma boa opção – o Filho de Deus nunca teve um telemóvel», refere.

O padre Richard Carlino, pároco das comunidades de S. João Evangelista e Santo António, em Schenectady, considera-se um forte defensor do silenciamento dos telemóveis. Na maior parte dos casos as pessoas colaboram, mas algumas não ouvem o aviso no início da missa.

«Tira-me toda a concentração», diz o sacerdote, quando um telefone toca durante a celebração, embora não acredite que os fiéis se esqueçam dele ligado propositadamente.

Nos últimos meses teve de falar com os paroquianos sobre o envio de mensagens, que considera menos distrativo do que um toque de telemóvel, mas «ainda assim uma distração daquilo que eles deviam estar a fazer na igreja. As suas cabeças não estão em Deus. Há exceções, mas deviam ser poucas».

Mesmo assim, nem tudo é negativo para o padre Richard: «Fico feliz por eles estarem na igreja, mesmo que estejam a fazer o que não deviam».

O padre Thomas Holmes, da mesma diocese, fica tão frustrado pela escassa etiqueta tecnológica na missa que já brincou com a possibilidade de instalar um dispositivo para impedir que o sinal da rede chegue dos telemóveis.

O sacerdote conta que quase todos os fins de semana há telemóveis a tocar durante a missa, muitas vezes durante a consagração: «Já disse algumas vezes: “Deve estar a brincar comigo”. Acho que eles devem ficar embaraçados”».

Há um aviso à porta de uma das igrejas confiadas ao padre Holmes que pede a quem entra para desligar os telemóveis. Mas o pároco ficou espantado e desapontado quando reparou que alguém tinha riscado as palavras. «É desmotivador. Não há motivo para que alguém tenha o telemóvel ligado na igreja.»

Já diversas vezes o padre Holmes observou adolescentes e jovens adultos a enviar mensagens na missa, mas nunca confrontou ninguém. Este hábito só o distrai se ele se dá conta durante a celebração, mas ainda assim gostava que nunca ocorresse dentro da igreja.

Afastar a tecnologia de quem vai à missa é uma missão difícil: «As pessoas estão viciadas. Há pais que me dizem que os seus filhos enviam mensagens uns aos outros quando estão sentados lado a lado no sofá».

«Em resumo, penso que as pessoas deviam ter um pouco mais de senso no que diz respeito aos seus telemóveis. Elas esquecem-se onde estão. É só uma hora das suas vidas», assinala.
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* Angela Cave
National Catholic Reporter
Trad./edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 18.11.2014

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