quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Recolhimento e solidão

Thomas Merton*

"Recolhimento é o mesmo que a solidão interior. É nela que descobrimos a finita solidão da alma, e a infinita solidão de Deus, vivo em nós. Enquanto esses vastos horizontes não se abrirem ao centro da nossa vida, é difícil ver as coisas em sua justa perspectiva. Os nossos juízos não estão em proporção com as coisas na sua realidade. Mas o homem espiritual, diz São Paulo, julga de tudo. É que ele se separa das coisas pelo desprendimento, a pobreza, a humildade, enfim, pelo seu aniquilamento. Em consequência, vê tudo em Deus somente. E ver assim é julgar como Deus julga.
 
O recolhimento, pois, nos leva à íntima solidão, que é mais do que o desejo ou o fato de estar só. Não é ao perceber quanto somos nós, que nos tornamos solitários, mas ao sentir um pouco da solitude de Deus. Ela separa-nos de tudo que nos cerca, e, contudo, é ela que em verdade nos faz mais irmãos de todas as coisas.
 
É impossível viver para o próximo sem entrar nessa solidão. Se tentamos viver para os outros sem primeiro viver para Deus, arriscamo-nos a mergulhar com eles no abismo."
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Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág.187
*Thomas Merton (Prades, 31 de janeiro de 1915  — Bangcoc, 10 de Dezembro de 1968) foi um escritor católico do século XX. Monge trapista da Abadia de Getsêmani, Kentucky, ele foi um poeta, activista social e estudioso de religiões comparadas. Escreveu mais de setenta livros, a maioria sobre espiritualidade, e também foi objecto de várias biografias.

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