segunda-feira, 1 de junho de 2015

TRABALHO NO FUTURO - 2020

As tecnologias vão ter um papel ainda mais importante nas relações interpessoais
Andreia Reisinho Costa

Rafael: será assim o trabalhador ideal em 2020

Um funcionário polivalente, de mentalidade elástica, muito assertivo e com forte inteligência emocional. É assim que deve ser o homem ou mulher que quiser ter um (bom) 
lugar no mercado em 2020.

Rafael é um rapaz de dezoito anos prestes a entrar na universidade. Daqui a cinco anos vai entrar no mercado de trabalho. Será que estes cinco anos vão ser suficientes para se preparar para as exigências das empresas de então? É que as mudanças tecnológicas, sociais e demográficas vão ditar novas regras na hora de escolher os funcionários ideais do mercado de trabalho em 2020. E Rafael quer ser um deles.

Quando tiver 23 anos, Rafael vai saber que a sua esperança média de vida aumentou em relação à dos pais, que os postos de trabalho repetitivos estarão entregues às máquinas e que a informática vai permitir-lhe ter novas perspetivas do mundo à sua volta. É nisso que aposta Graham Winfrey, jornalista da Inc., que se baseou nos critérios medidos pelas dez maiores instituições de ensino online norte-americanas.

Assim que Rafael se tornar adulto, os novos media vão continuar a evoluir e a exigir uma adaptação constante, a tecnologia vai desenvolver novas formas de produção e os monopólios (ainda) entregues aos Estados Unidos da América e à Europa poderão estar dispersos por outras regiões do mundo.
Para triunfar, Rafael terá pois de ter estas características em 2020:

Mas vamos aos pormenores. O futuro de Rafael terá como palavras-chave a longevidade, a inteligência artificial, o mundo computadorizado, os novos media, as organizações dotadas de superestruturas e a conexão mundial. 2020, na perspetiva das empresas, será mesmo um ponto de viragem no modo de fazer negócio, mas acompanhar os tempos também exige mudanças no estilo de operar nos mercados.

O mundo global

De acordo com a Inc.com, uma das realidades que se vai tornar mais evidente ao longo dos próximos anos é a dispersão de recursos humanos: as empresas – desde as mais pequenas às de maiores dimensões – vão operar num mundo globalizado que exige a presença de funcionários em todo o mundo. A verdade é que a comunicação empresarial não pode esperar e é para isso que a realidade digital se está a preparar: satisfazer as necessidades de conexão.

Existem várias ferramentas com esse propósito. Novas plataformas de partilha de informação, por exemplo, permitem enviar documentos de forma mais metódica e célere do que através do e-mail. O armazenamento é facilitado e o alcance informativo é maior.

Num futuro onde se esperam trabalhadores polivalentes, é mais benéfico para todos que partilhem experiências e capacidades: os blogs e microblogs têm a função de mostrar as competências dos recursos humanos, mas também de substituir as mensagens curtas. É mais viável que todos os aspetos relacionados com a vida profissional dos trabalhadores seja de fácil acesso para todos.

Nesse sentido surgem também as páginas wiki (modelo Wikipédia), desta vez para serem utilizadas como ferramenta de armazenamento de informação credível: uma base de dados para os assuntos ligados à empresa que permita a todos estarem em constante atualização. No entanto, as wiki exigem um cuidado maior com o tratamento da informação.

Muito próximo destas páginas estarão os fóruns, que existem há muitos anos mas que voltam à ribalta para fomentarem o espírito crítico e a capacidade de argumentação.

Todas estas ferramentas exigem que se tracem objetivos muito precisos, sob pena de caírem na vulgaridade e diversão. É necessário que todos os utilizadores os vejam como uma base para a construção de conhecimento atual e qualitativo, gestão mais eficaz e próxima do trabalho, um local de brainstorming (troca de ideias em grupo) que garanta a inovação e uma plataforma de partilha segura de documentos.

Outro aspeto muito importante destes plataformas: funcionam com um propósito social. Os horários do mercado de trabalho dentro de alguns anos vão ser cada vez mais inconstantes e elásticos: não se trabalha em função do relógio, mas antes dos objetivos traçados. Resta cada vez menos tempo livre para a socialização: se as empresas fomentarem os laços entre colegas de trabalho, podem garantir um maior bem estar nos escritórios.

A geração digital

De onde vieram todas estas necessidades? A PRNewswire explica que é uma questão geracional. Os jovens de agora que vão entrar no mercado de trabalho em 2020 nasceram com o digital, cresceram em paralelo com as tecnologias. Há que construir ambientes de trabalho onde estas características sejam potenciadas.

As redes sociais serão, obviamente, também importantes neste futuro próximo. Será preciso estar constantemente ligado, independentemente do local e da hora. Essa é uma das receitas para o espírito colaborativo e envolvente de que será feito o mundo em 2020.

As competências (e os interesses) pessoais

Embora as tecnologias estejam na linha da frente para o desenvolvimento empresarial no futuro, há que ter em conta que elas estão ao alcance de toda a gente, alerta a Success Factors. Até mesmo da concorrência. O único modo de combatê-la é através de mão de obra competente, muito disponível e de espírito aberto. Essa é, aliás, uma outra característica dos recursos humanos em 2020: as motivações vão muito para além do trabalho. Os trabalhadores vão querer entender os percursos e decisões empresariais para conseguir traçar melhor as suas operações.

Mas nem só de computadores é feito o futuro: as competências pessoais e os atributos pessoais dos trabalhadores também vão merecer a atenção dos empregadores. São chamados de soft skills, mas não são tão suaves quanto isso: é através deles que se marcará a diferença em relação à concorrência. E não são tão fáceis de encontrar num trabalhador quanto se possa pensar.
Mas afinal, que soft skills são esses? A Inc.com diz que são os seguintes:
  1. Completar tarefas de alta qualidade no espaço de tempo exigido.
  2. Colaborar com vários grupos de trabalho e mantê-los em comunicação – em tempo útil.
  3. Apresentar trabalhos ao ambiente interno e externo da empresa.
  4. Aprender e ensinar, tanto em assuntos técnicos como outros.
  5. Traçar missões para projetos de gestão.
  6. Adaptar-se com facilidade ao estilo de trabalho de várias pessoas.
  7. Ser flexível perante mudanças de planos de última hora.
  8. Tomar decisões concisas e ponderadas.
  9. Procurar novos horizontes para a sabedoria e autoridade.
  10. Ser proativo e apoiar os trabalhos alheios.
  11. Trabalhar em vários projetos ao mesmo tempo.
  12. Conseguir operar com um orçamento limitado.
  13. Conhecer as prioridades.
A inexistência destas características pode limitar o trabalho de um funcionário e o sucesso fica comprometido se elas não forem levadas em conta. E vão merecer muito mais atenção numa entrevista de trabalho em 2020 do que o tempo e a atenção que se lhes dedica atualmente.

Pedro Martins, senior manager da Michael Page Engineering & Property – uma empresa de recrutamento que opera também em Portugal – concorda: “É importante que um profissional se destaque dos demais, demonstrando foco, trabalho em equipa e vontade de atingir e lutar por objetivos e metas”. Além da inovação e adaptabilidade, “que transformem uma dificuldade num desafio ou até numa oportunidade”, também é decisivo a “polivalência e flexibilidade”.

A opinião dos especialistas

Outras características que vão ser importantes no futuro segundo Pedro Martins são as “experiências internacionais e fluência de idiomas” e isso também passa pelo investimento em formação complementar e capacidade de trabalho especializado. E já há exemplos disso no presente: “As empresas que atualmente apresentam melhores resultados são, por norma, as que tiveram a visão de apostar na internacionalização das suas atividades”. A experiência é muito importante neste campo porque permite um conhecimento muito preciso dos mercados-alvo.

Mas esta é uma exigência que vem com um propósito: estabelece-se mais confiança tanto na relação com os clientes, como pelos candidatos. E Portugal pode estar na linha da frente: “Caso se mantenha a estabilidade política e económica e os players do país souberem apostar naquilo que Portugal tem de melhor, continuarão a surgir oportunidades” em áreas como tecnologias da informação, finanças ou indústria: “Os centros de serviços partilhados, a área digital e a internacionalização e exportação de produtos portugueses de qualidade”.

Claro que estas mudanças não podem tomadas como lineares. É o que explica Sandrine Veríssimo, diretora regional da Hays – uma empresa de recrutamento especializado – “o mercado de trabalho está em constante mudança, sendo que as competências técnicas exigidas aos profissionais reflectem sempre a realidade e as necessidades específicas da economia do momento”.

Mas Sandrine concorda que as necessidades de emprego passam obrigatoriamente por “conseguir formar e preparar os profissionais para necessidades e tecnologias que não sabemos sequer quais serão”. Algo parece unânime entre os recrutadores especializados: capacidade de adaptação, criatividade, versatilidade e rapidez de aprendizagem.

E tecnicamente falando? Programar. Pegar  num computador e saber desenvolver pelas suas próprias mãos plataformas de trabalho. E isso também exige domínio de idiomas e linguagens tecnológicas, “sobretudo se se cumprirem as boas perspetivas para o aumento das relações económicas entre países e o crescimento do setor do Turismo”.

Em última análise, em 2020 as empresas poderão concluir que o objetivo para fazer frente à concorrência não é investir desmesuradamente, mas antes ultrapassá-la de forma sustentável usando o talento dos trabalhadores quando e onde for mais necessário. E para tal há que antecipar mudanças e construir respostas de forma atempada. Sempre em cooperação: o futuro está nas relações. Mesmo que sejam digitais.

Quer saber se está pronto para enfrentar o futuro? A Success Factors – uma empresa que gestão de recursos humanos – preparou um teste para descobrir se está preparado para fazer parte da chamada Workforce 2020. Clique no link e descubra.
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Este texto foi elaborado com Marta Leite Ferreira.
Reportagem por  Filomena Martins e Andreia Reisinho Costa
Fonte: Site de Portugal: O observador.

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