quinta-feira, 30 de julho de 2015

‘Questão migratória é o principal problema europeu, mais que a crise grega'

 

 Policiais bloqueiam passagem de imigrantes que tentam passar para o lado britânico - PASCAL ROSSIGNOL / REUTERS

 Para Bruno Cautrès, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, incapacidade da UE alimenta populismo

PARIS - O drama dos migrantes que têm se arriscado no Eurotúnel para chegar ao Reino Unido colocou a questão novamente em pauta. Para Bruno Cautrès, analista do Instituto de Estudos Políticos de Paris, a incapacidade da Europa em lidar com a situação alimenta o populismo que rechaça os refugiados e dá voz a radicalismos.

Qual o significado de mais este incidente em Calais?
Há muito tempo, não somente a França, mas a Europa, não sabe enfrentar esta situação. E temos o sentimento de que é algo cada vez mais grave. Há uma pressão crescente, e esta questão da imigração e dos refugiados se tornou o problema número um da Europa, talvez mais do que a crise grega. Os países europeus se sentem pouco à vontade em aceitar assumir sua parte do problema. É um problema para o qual ninguém parece ter uma solução.

Como você analisa a reação dos envolvidos hoje?
As respostas se restringiram ao âmbito da manutenção da ordem, do reforço da segurança, com envio de policiais. O ministro do Interior francês disse que a situação em Calais reflete o estado dos problemas e das tensões do mundo. Tudo bem, ele tem razão. Mas dizendo isso, ele não diz nada. Fui surpreendido por essa abordagem do governo francês restrita às questões de segurança.
 
Há uma impotência europeia para enfrentar o problema?
As soluções são de longo prazo e onerosas, de nível internacional, nas áreas de políticas de cooperação, de desenvolvimento. As soluções de curto prazo são humanitárias. A Itália teve razão em lembrar que os fundos europeus que lhe haviam sido destinados para enfrentar a situação foram reduzidos. Hoje, é ainda mais difícil, pois muitos governos têm o sentimento de que os cidadãos não acreditam mais na Europa.

Este quadro favorece o discurso da extrema-direita e do populismo, de Marine Le Pen (FN), e também a proposta do ex-presidente Nicolas Sarkozy, de acabar com o Espaço Schengen?
São temas do terreno da extrema-direita que proporcionaram seu sucesso na França, com o objetivo de amedrontar com a ameaça de uma invasão de refugiados e imigrantes. E também de dizer que abandonando a soberania nacional em detrimento da Europa, do Espaço Schengen (espaço europeu em que os países participantes têm fronteira aberta entre si), a França se coloca em perigo. Se o que se passou hoje, ocorresse duas semanas antes do primeiro turno da eleição presidencial, haveria um efeito importante.
---------- 
Reportagem por

Nenhum comentário:

Postar um comentário