sábado, 17 de outubro de 2015

Estocar vento e colher maledicência

Juremir Machado da Silva*
 
Vão dizer que sou petista e quero defender, a qualquer custo, a presidente Dilma. Não sou. Nem quero. Poderia ser. Mas não sou. Qual o problema? O PT é um partido como qualquer outro. Nem pior nem melhor. Ou como quase todos outros. Talvez haja alguma exceção.

Nunca tive partido. Nem pretendo ter. Já deixei de ter clube de futebol.

Sou independente demais para ser fiel.

A presidente cometeu muitos erros.

Quem foi a anta que a aconselhou a querer ser chamada de presidenta? Riram da Dilma quando ela elogiou a mandioca. Riram quando falou em mulher sapiens. Riram quando se referiu a estocar vento. Sugeriram pastel de vento. Quando é preciso dizer todos e todas, sob pena de ser chamado de machista, a mulher sapiens se impõe como o resultado de uma lógica infantil. O meu problema é o vento. Também quero estocá-lo. Assim como o sol.

Eu sou fã da mandioca. Não me escandalizo com a mulher sapiens. Sou tolerante com a ignorância e com os deslizes discursivos de cada um. Em Palomas, dizia-se “pregunta”. Era influência do espanhol. Em francês oral o correto é “essas casa bonita”. Tudo convenção.
Sei que tudo isso faz parte de um sistema de hierarquia social.

Fiquei feliz ao saber que já em 2018 uma tecnologia de estocagem de vento e sol estará disponível no mercado. Dilma é uma vanguardista sem o saber. Ou por estar bem informada. Pesquisadores da Universidade de Birmingham desenvolveram uma técnica para estocar energia solar e eólica. Minha avó Nema vivia dizendo que ainda viveríamos de vento. É o que acontece com quem trabalha com energia eólica. Viva o vento.

O professor Richard Williams, pró-reitor e diretor da Faculdade de Engenharia e Ciências Físicas da Universidade de Birmingham, explicou, em São Paulo, como isso acontecerá. Não entendi grande coisa, mas fiquei deslumbrado com o que disse Williams: “Para o armazenamento de energia, o dispositivo apenas captura e esgota o ar. E, quando a estocagem criogênica é utilizada em motores, o material trocado com o meio é novamente o ar”. Estocar vento já é realidade. Esse Williams só pode ser petista. Ainda há quem não acredite que o homem pisou na lua. Também há quem creia piamente que o Corinthians ganhou lisamente o título de 2005. Devem ser os mesmos que debocharam da presidente quando ela sonhou em estocar vento. Discordo muito da presidente Dilma. Acho que ela rasgou seu discurso de campanha. Sou contra o fato de ela estocar Joaquim Levy no seu ministério. É vento.

Dilma estocou durante muito tempo o companheiro Mercadante no governo. Era um tornado numa caixa de sapato. Mais arrojado é conviver com o PMDB. Um furacão chamado de aliado. Quem convive com o PMDB estoca vento em quantidades calamitosas. Quem estoca vento pode colher um impeachment. O problema do PMDB é ser um vento que não sabe para que lado soprar. Na dúvida, anda em espiral. Sopra para todos os lados sem cair. Dilma brincou com vento e acabou no meio da tempestade. O Brasil vem estocando vento político desde a proclamação da República. O jogo mais praticado entre nós é o pé de vento, também conhecido como golpe. Seria melhor falar sério? Há muito que o Brasil está aquém e além da seriedade.

É o regime dos ventos estocados.

Sonhar com estocagem de ventos não é ignorância. É antecipação.

Sonhar com impeachment sem fundamento jurídico é que é grave.

Ou ignorância.
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* Sociólogo. Escritor. Tradutor.
Fonte:  http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/
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