segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A monstruosidade

 Francisco Louçã*
 
 
Os atentados em Paris não são um ato de guerra. São uma monstruosidade. Atacar populações civis não é guerra, é cobardia e é abominável.
 
As vítimas são sempre todos. Os muçulmanos de Paris ou quem não tem religião. Quem assiste ao jogo de futebol ou quem o ignora. Quem gosta de Hollande e quem o detesta. Quem sabe onde é a Síria e quem nunca olhou para um mapa. Quem acolhe os refugiados do Afeganistão e quem tem medo deles. Todos.

Mas, se as vítimas são todos, então esta ato não é guerra, é fuga.

Sei que o mesmo se pode dizer de outros bombardeamentos de populações civis. Tem sido assim no Iraque como na Síria. Foi assim na Líbia e no Afeganistão. Não é o facto de não haver câmaras de televisão que contem os mortos ou mostrem o sofrimento que diminui a monstruosidade. Sei que o mesmo se deve dizer dos ataques de Erdogan contra as cidades curdas. A monstruosidade.

É precisamente a reivindicação da humanidade contra a monstruosidade que exige, por isso, a inteligência da resposta. Em nome da sociedade e da democracia, o combate ao terror deve erradicar as suas cumplicidades, os seus negócios, as suas armas, os seus fanatismos, as suas bases e as suas ligações, os seus mandantes e os seus agentes. A cultura do ódio é o contrário da inteligência e exigência da humanidade. Basta de criar guerras para justificar as guerras.

A guerra infinita nunca vence. Também nunca perde. Exceto para as vítimas. Todos, agora, contra a 
monstruosidade.
 ----------------------------
*  Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
Artigo publicado em blogues.publico.pt a 14 de novembro de 2015
Foto: Uma criança síria teria levantado as mãos ao confundir uma câmera fotográfica com uma arma. A imagem foi compartilhada pela fotojornalista Nadia AbuShaban via Twitter e se tornou viral. O autor da foto é o turco Osman Sagirli. A criança é uma menina chamada Hudea, de 4 anos. A imagem foi tirada no campo de refugiados de Atmeh na Síria. Hudea viajou ao campo - a cerca de 10 km da fronteira turca - com a mãe e dois irmãos, a 150 km da cidade deles,

Nenhum comentário:

Postar um comentário