segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

"A vontade do Pai Nosso não é um planeta degradado"

"Se a Conferência Internacional sobre o Clima que está sendo realizada em Paris acabasse em uma fase de impasse, eu não descartaria uma polida intervenção do Papa Francisco." A convicção é do cardeal Peter Turkson, que foi o curador da Laudato si' e que, desde a sua publicação, intensificou a sua participação em encontros e seminários para explicar como o cuidado da criação – tema da encíclica – é uma exigência imprescindível para um cristão.

E uma confirmação já veio no Ângelus do domingo, 6 de dezembro, quando o Papa Francisco declarou que acompanha "com viva atenção" as negociações de Paris, desejando "todos os esforços" voltados a atenuar os impactos das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, a combater a pobreza e fazer florescer a dignidade humana (e antes de sair para a viagem à África ele havia declarado que "estamos à beira do suicídio").

O presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz é igualmente explícito: "Não podemos professar o amor de Deus quando não amamos do que Ele criou". E, na Irlanda, no dia seguinte aos acontecimentos de Paris, afirmou: "As ameaças que derivam da desigualdade global e da destruição do ambiente estão correlacionadas e devem ser consideradas como as maiores ameaças que enfrentamos hoje como uma única família humana".

Se, durante o mês de novembro, ele tinha completado uma série de encontros entre os Estados Unidos e a América Central – na Universidade de Santa Clara, com o tema "Do Vale do Silício a Paris" – para ilustrar o que está em jogo na COP-21, nestes dias de trabalho, Turkson não para a sua ação de "embaixador da Laudato si'", como muitas vezes ele é apresentado.

A última conferência foi proferida em Londres, a convite da organização humanitária CAFOD (também membro do movimento católica Global Climate), sempre sobre o mesmo tema.

Poucas horas antes da abertura da Porta Santa no Vaticano, uma certeza: "O que está em jogo é a própria sobrevivência do homem sobre o planeta azul. A COP-21 será capaz de chegar a um acordo justo, eficaz e juridicamente vinculante para limitar as emissões de gases de efeito estufa e parar o aquecimento global? Se assim for, essa vai ser a porta para assegurar um futuro sustentável para a nossa casa comum. Caso contrário, a humanidade continuará fechando a porta sobre si mesma...".

"O Jubileu é a oportunidade para cuidar da criação e mostrar piedade para os pobres. Tanto a natureza quanto a sociedade estão ameaçadas pela degradação. Durante este ano de oração e de reconciliação, podemos contribuir para levar a misericórdia de Deus para a nossa casa comum e para todos os que a habitam."

Para o prelado ganês, existem "cinco portas mais uma" capazes de nos fazer compreender a crise atual.

A primeira porta é o reconhecimento de que a crise – mudanças climáticas, poluição e degradação do ambiente natural – afeta a todos e a tudo. O que está em jogo é a justiça entre as pessoas e as gerações, e a dignidade daqueles que agora habitam o planeta e daqueles que habitarão no futuro. Seis bilhões de pessoas são responsáveis apenas por 6% das emissões que sufocam o nosso planeta, mas são elas as mais atingidas (e a ONU alertou sobre os possíveis milhões de "refugiados ambientais" que baterão às nossas portas).

A segunda porta é a consciência da responsabilidade de cada um: a mensagem da Laudato si' é dirigida a todos os habitantes do planeta. "A interdependência nos obriga a pensar em um só mundo, em um projeto comum" (LS 164). E não só políticos, especialistas e técnicos: todos nós devemos agir, na linha de simples bons hábitos cotidianos, como sugeridos pelo papa (coleta diferenciada, limitar o desperdício de água e de energia, carona solidária).

O reconhecimento de que todos os seres vivos estão fundamentalmente interconectados, como já acreditava, muito antes da ciência, a sabedoria dos povos indígenas, é a terceira porta. Não devemos pensar em termos de crises diferentes, social e ambiental, mas sim em termos de uma única crise, sentido e ouvindo o grito da terra e o grito dos pobres (basta pensar, sugere Turkson, que a Síria nos últimos anos sofreu a pior seca e a mais grave perda das colheitas da sua história, onde os pastores perderam 85% do seu gado, e um caso semelhante é a seca na região do Sahel na África ocidental e também no Chifre da África).

A quarta porta é dizer a verdade e ter a coragem de identificar os problemas, sem negar o óbvio: "Devemos ser honestos e reconhecer, por exemplo, que os combustíveis fósseis permitiram enormes progressos humanos nos últimos dois séculos, mas agora ameaçam tornar inabitável o planeta, e devemos deixar de acreditar que os recursos são ilimitados ou que a economia pode crescer sem avaliar o seu impacto ambiental".

Só resta, então, a porta do diálogo como o único modo de enfrentar os problemas em busca de soluções eficazes, um diálogo autêntico, honesto e transparente que não ceda aos interesses particulares de países individuais ou de grupos específicos.

"A doutrina social católica já contém todos os princípios úteis para um verdadeiro diálogo: sob a insígnia da solidariedade e da subsidiariedade, é preciso se concentrar sempre no bem comum e mostrar especial solicitude para com os pobres e a terra."

Sem esquecer uma última porta, a da oração. "A maioria das pessoas conhecem uma excelente oração para uma visão ecológica, a do Pai Nosso: 'Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu'. Qual poderia ser a vontade do Pai celeste? Talvez uma visão que inclua depósitos de lixo tóxico? Comportamentos nefastos que pioram as condições de vida? Ou talvez as injustas divisões entre ricos e pobres?".
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Reportagem por A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 09-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte:  http://www.ihu.unisinos.br/noticias/550092-qa-vontade-do-pai-nosso-nao-e-um-planeta-degradadoq
Imagem da Internet

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