quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A origem da ansiedade: psicológica ou fisiológica?

PAULA CAROLINA CARDOSO BRENNEISEN*
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A ansiedade é ubíqua à condição humana e está presente atualmente dentro do contexto das pressões, demandas e estresses flutuante do cotidiano humano. É um sentimento como outro qualquer que se apresenta em diferentes escalas, pode ser considerada saudável em condições normais. No entanto em escalas maiores pode ser extremamente prejudicial tanto para a saúde mental do indivíduo quanto para a física devido aos seus vários sintomas (RANGÉ, 2005). Mas, então, o que é afinal ansiedade? Como ocorre a exacerbação desse sentimento? Tem causa fisiológica e, portanto, tratável com medicamentos, ou psicológica e tratável com psicoterapia? Essas e outras perguntas serão respondidas ao longo do texto.

Para o Nacional Institute of Mental Health (NIMH, 2001), 19 milhões de adultos norte-americanos apresentando um transtorno de ansiedade, estima-se que 20% a 30% da população mundial venha a desenvolver transtornos relacionados pelo menos uma vez na vida sendo que a prevalência é em mulheres, portanto é um assunto de muita relevância para estudos. Os medicamentos utilizados para o tratamento desses transtornos são da classe antidepressivos e estabilizadores do humor e são a terceira classe de remédios mais prescrita no mundo, movimentando mais de 19,5 bilhões de dólares por ano. Os transtornos de ansiedade são a forma mais prevalente dentre os distúrbios de ordem psicológica, a Organização Mundial da Saúde Mental (OMS, 2004) constatou que é o transtorno mais comum em todos os países, exceto na Ucrânia e China. Portanto, milhões de pessoas no mundo inteiro travam uma batalha diária contra a ansiedade clínica e é um assunto de grande importância (CLARCK E BECK, 2012).

A natureza emocional humana faz parte do psicológico em que, no modelo cognitivo-comportamental, a emoção precursora da ansiedade é o medo, o qual surge como uma resposta adaptativa e saudável a situações de ameaça à integridade física do sujeito, garantindo a segurança e sobrevivência dele. O medo é importante, presente em todos os seres normais e saudáveis. No entanto, esse sentimento pode ser mal adaptativo quando ocorre em uma situação não ameaçadora que é interpretada de maneira errada como perigosa. São essas situações geradoras de estresse como trabalho, estudos, falar em público, entre outras que não põem a vida da pessoa em risco, mas capazes de gerar ansiedade em demasia. Já os sintomas fisiológicos posteriores à percepção de situação ameaçadora provocam ativação do sistema nervoso simpático e parassimpático, que geram hiperexcitação como a constrição dos vasos sanguíneos, tônus aumentado dos músculos, frequência e contração cardíaca aumentadas, dilatação dos pulmões, dilatação das pupilas, cessação na atividade digestiva, aumento no metabolismo basal e secreção aumentada de epinefrina e norepinefrina no cérebro, ou seja, prepara o indivíduo para fugir, lutar ou congelar (BRADLEY, 2000). No entanto as situações que causam ansiedade na contemporaneidade não representam real risco de vida, todas as reações fisiológicas terminam por inutilmente prejudicar o funcionamento do organismo.

Nesse sentido, a ansiedade pode ser considerada uma resposta emocional provocada pelo medo, se constituindo do estado desagradável evocado quando o medo é estimulado com uma série de sintomas fisiológicos que surgem por consequência desse estado emocional, e não como causa. A ansiedade num estado mais permanente de ameaça ou apreensão ansiosa que inclui outros fatores cognitivos denominados de crenças, como a incontrolabilidade, incerteza, vulnerabilidade, desamparo, e incapacidade (RANGÉ, 2005). Partindo do pressuposto de que um sujeito apenas avalia uma situação não ameaçadora como uma ameaça real quando possui algumas crenças disfuncionais, elas se tornam fundamentais para diagnóstico dos transtornos, como exemplo dessas: acreditar que o futuro é incontrolável e o pior pode acontecer, ou não ser capaz de encontrar respostas adequadas para seus problemas cotidianos, ainda se considerar despreparado para lidar com qualquer situação se tornando vulnerável. Nesse sentido sujeitos psicologicamente amparados, seguros e saudáveis geralmente tem mais capacidade de lidar com adversidades da vida sem sentirem-se demasiadamente ansiosos, sendo considerados mais preparados, maduros, seguros, emocionalmente estáveis, independentes e até mesmo mais confiáveis pelas pessoas.

É importante separar o que é normal de todos os seres humanos do que não é. Se livrar totalmente do sentimento de ansiedade é tarefa impossível já que é inerente a uma emoção tão rudimentar dos seres vivos que é o medo. No entanto, pode-se tratar sua exacerbação que prejudica a qualidade de vida bem como a saúde psicológica das pessoas. Segundo Clark e Beck (2012), para que a ansiedade seja considerada clínica se faz necessário imprescindivelmente a presença de cinco critérios de ordem estritamente psicológica, o que sugere que os sintomas físicos não especialmente definem o diagnóstico. Dentre eles estão a cognição disfuncional, ou seja presença das crenças disfuncionais citadas anteriormente; funcionamento prejudicado em que a vida do sujeito está claramente afetada de maneira negativa pelas ameaças irreais percebidas; a clara manutenção que o sujeito faz para a permeação da ansiedade como antecipação da ameaça que pode ser constatada diariamente, presença dos chamados alarmes falsos (pânico ou medo excessivo sem qualquer presença de estímulo, o estado ocorre sem nenhum evento causal e a pessoa pode ficar sob constante alerta), e, por fim, a hipersensibilidade a estímulo. A última diz respeito às situações irreais consideradas ameaçadoras que geram excesso de sentimentos negativos: pessoas com aversão à andar de elevador, por exemplo, têm respostas fisiológicas e alteração emocional apenas em pensar sobre o assunto.

Portanto, a ansiedade é de causa psicológica que possui efeitos tanto mentais como físicos como resposta a uma avaliação de perigo eminente, provavelmente por uma crença individual de impotência para lidar com os problemas adversos e também de vulnerabilidade generalizada. A ansiedade está presente em todos os indivíduos e é importante para a sobrevivência em situações de perigo real, mas que exacerbada pode gerar prejuízos inicialmente psicológicos e posteriormente físicos, devendo ser tratada com psicoterapia e, em casos mais graves, como é o caso de transtornos diagnosticados por profissionais competentes, tratados também com o auxílio de medicamentos prescritos por psiquiatras.

BIBLIOGRAFIA
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5ªed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
BRADLEY, S.J. Affect regulation and the development of psychopathology. Nova York: Guilford Press, 2000.
CLARK, D. A. e BECK, A. T. Terapia Cognitiva para os Transtornos de Ansiedade. Porto Alegre: Artmed, 2012.
NATIONAL INSTITUTE OF MENTAL HEALTH (NIMH). The numbers cont: Mentals disorders in America, 2001.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Conferência internacional sobre cuidados primários de saúde (declaração de alma-ata, 1978). Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
RANGÉ, B. Terapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a Psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2005.
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 * PAULA CAROLINA CARDOSO BRENNEISEN é Psicóloga Clínica Especialista em Terapia Cognitivo-comportamental pela UNIFIA – SP. CRP: 12/15040. E-mail: paulabrenneisen@gmail.com Facebook: https://www.facebook.com
Fonte:  https://espacoacademico.wordpress.com/2016/08/22/a-origem-da-ansiedade-psicologica-ou-fisiologica/
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