domingo, 4 de junho de 2017

A duração dos erros

Martha Medeiros* 
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Grande parte das pessoas já foi entrevistada ou deu um simples depoimento em frente a uma câmera. Pode ter sido um comentário rápido durante uma enquete ou uma participação num vídeo. Se você nunca, nunquinha, foi filmado ou gravado, entendo, mas já deve ter falado em público alguma vez, feito um discurso ou participado de uma peça de teatro na escola. Haverá quem nunca tenha segurado um microfone diante de uma plateia de olhos atentos? Em algum momento da vida isso aconteceu, e, se você ficou um pouco constrangido, envergonhado (sem rodeios: em pânico), vai entender a situação. É quando a gente está construindo um raciocínio na frente dos outros e a palavra que necessitamos não vem. Isso acontece durante nossas conversas cotidianas e ninguém repara, mas, se há uma câmera ou um grupo à sua frente, a impressão que dá é de que aqueles três segundos de vacilo estão durando 10 minutos, 20 horas, uma vida inteira. Você pensa: ferrou, que mico, como é que foi dar um branco justo agora que todos estão prestando atenção em mim?

Isso já me aconteceu algumas dezenas de vezes, e sempre fico com a sensação de que a minha hesitação durou uma eternidade e meia. Quando, mais tarde, tenho a oportunidade de rever a cena que foi ao ar, percebo que durou um par de segundos e que minha reputação saiu ilesa. Ninguém notou. Foi mais uma desimportância que eu promovi a gafe do século.

Usei esse exemplo de falar em público porque me dei conta de que nossos erros – ou aquilo que consideramos um erro – ganham uma dimensão desproporcional se comparados com nossos acertos. Por quanto tempo lembramos daquilo que fizemos bem? A lembrança se esvai assim que cessam os tapinhas nas costas. No entanto, nossos erros seguem nos infernizando por um prazo indefinido. Há quem leve semanas e até meses conjecturando sobre aquilo que foi uma bobeada, apenas uma bobeada. Não mereceria tanta relevância de nossa parte, mas vá explicar isso para o crítico feroz que nos habita.

Trazemos dentro um ombudsman particular, e ele não é nada gentil. Tudo o que depõe contra nós é amplificado. O maior exemplo disso é que rapidamente esquecemos os elogios que nos fazem, mas as ofensas são levadas para a cama e doem como uma perfuração no fígado. O mesmo acontece com todos os escorregões, mal-entendidos, indelicadezas, lapsos e demais percalços de conduta que levam nossa assinatura. Nossos erros custam a sair de cena. Já nossos acertos... que acertos?

Agora veja minha situação: não faço a menor ideia de como encerrar esta coluna. Cheguei ao final do texto sem uma solução para tirar da cartola. Bem feito pra mim. Frustrei você e irei me torturar até sábado que vem.
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* Jornalista. Escritora.
Fonte:  http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a9806898.xml&template=3916.dwt&edition=31284&section=1026 03/06/2017

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