segunda-feira, 3 de julho de 2017

O besteirol no poder

 Luiz Antônio Araujo*
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 Naomi Klein

Se você está pensando “A que ponto chegou a política” ao assistir ao presidente dos Estados Unidos derrubando um homem com o logotipo da CNN sobre o rosto, faça uma pausa e reveja a peça. As imagens na sua tela são tão autênticas como o vídeo comemorativo que o Facebook lhe oferece e no qual sua foto de formatura aparece ao lado da selfie do churrasco de domingo passado.

Trump reciclou um trecho do programa de TV Batalha de Bilionários, exibido em 2007 e no qual fazia o papel de si mesmo. A atração era produzida pela companhia de eventos de luta livre World Wrestling Entertainment (WWE), especializada em espetáculos do gênero. No programa, Trump derrubou Vince McMahon, dono da WWE – o homem que, na versão deste domingo, aparece com o logo da CNN no lugar do rosto.

Essas são as informações por trás do vídeo de sete segundos tuitado pelo presidente dos EUA nesta antevéspera de 4 de Julho, Dia da Independência. Mas há um contexto mais amplo e interessante em torno dessas imagens.

A escritora canadense-americana Naomi Klein acaba de publicar um dos mais importantes livros escritos contra Trump. Inédita no Brasil, a obra tem um título que poderia ser traduzido como É Insuficiente Dizer Não. No livro, a autora afirma, em síntese, que Trump é um político diferente porque se guia pelas regras do marketing e não da política.

Concorde-se ou não com essa e outras ideias, o importante aqui é notar que, a certa altura, a autora enfatiza o uso político que Trump faz da... luta livre. Isso mesmo: luta livre.

Citando Klein (tradução minha): “Trump não apenas levou a experiência de reality show para a política eleitoral – ele a misturou com outro megagênero de sucesso no entretenimento que também é baseado numa falsa performance de desenho animado da realidade: luta livre profissional. É difícil superestimar o fascínio de Trump pela luta livre. Ele fez seu próprio papel (o magnata milionário) em aparições no WWE por pelo menos oito vezes, suficientes para lhe garantir um lugar no Hall da Fama do WWE. Em Batalha de Bilionários, ele fingiu nocautear o rei da luta livre Vince McMahon e depois celebrar a vitória ao raspar em público a cabeça de McMahon diante de uma plateia alucinada. Ele também atirou milhares de dólares em dinheiro para a audiência de fãs em gritaria. Agora, ele nomeou a ex-diretora-executiva da WWE Linda McMahon (mulher de Vince) para seu gabinete como chefe da Administração de Pequenos Negócios, um detalhe que se perdeu em meio ao dilúvio diário (de notícias)”.

A escritora prossegue fornecendo inúmeros exemplos de como Trump utiliza a luta livre como anabolizante nos negócios e, agora, na política.

Trump é um idiota – para cunhar uma expressão. Seu fascínio pela luta livre é muito mais antigo do que seu interesse pela política. Em comum, porém, ambos têm para ele o fato de servirem como máquinas de fazer dinheiro.

Alguns imaginaram que faria da presidência dos EUA uma espécie de Ilha de Caras. Foram frustrados em seu otimismo. O governo do homem do topete laranja transformou a Casa Branca em cassino de Las Vegas. E está apenas no 164º dia.
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* Jornalista. Colunista da ZH 
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a9831320.xml&template=3916.dwt&edition=31434&section=3595
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